A própria cúpula nacional petista mais do que ninguém está convencida de que precisa ir devagar com o andor na pantomima da publicidade da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto sob pena de perder prazos legais e, com isto, prejudicar uma eventual chance que o candidato-substituto da chapa tríplex Fernando Haddad (conhecido em regiões do Nordeste como Andrade) possa vir a ter de capitalizar a vitimização do ex-metalúrgico alçado hoje à condição de presidiário na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O problema é simples: se esticar muito a corda para projetar Lula, o Partido dos Trabalhadores ficará chupando o dedo na hora de embasar juridicamente uma virtual candidatura-substituta do Haddad que, como se sabe, não foi reeleito prefeito de São Paulo, porque detinha altos índices de reprovação, mas foi o ungido por Lula porque cumpre ordens fielmente como um cão de guarda e, além do mais, não faz sombra ao mito da cela da PF.
Os experts jurídicos avaliam, com base na letra fria da lei, que há um limite para tudo, inclusive, para essa manobra de apresentar imagens do baú de Lula no Guia Eleitoral na tentativa de sensibilizar o eleitorado a votar em Haddad (ou Andrade?) como se estivesse votando em Lula. Uma autêntica manifestação de faz de conta, mas que interessa enormemente ao PT como estratégia eleitoral senão necessariamente para fazer Lula ser eleito, seguramente para tumultuar o processo político-eleitoral. Os petistas nunca souberam perder, jamais admitiram perder. O Lula que aparece no Guia, hoje, é uma reedição do passado, de campanhas que tiveram o condão de mobilizar as massas, até mesmo de torná-lo fenômeno depois de sucessivas tentativas de chegar ao Palácio do Planalto. Por assim dizer, é um Lula falsificado, já que a Lei não permite que o Lula recolhido à cela da PF em Curitiba, onde mata o tempo lendo livros, conchavando com petistas e exercitando-se com equipamentos de última geração, possa desfilar no rádio e na TV como candidato se, legalmente, não é candidato.
O resultado é que Haddad até agora continua ofuscado, num longínquo plano de massificação na mídia, ainda desconhecido em termos de propostas para o País (será que ele tem propostas para o Brasil?), porque se convencionou dentro das hostes petistas que é preciso esgotar ao máximo, com a indulgência da Lei ou da Justiça, a repetição do nome de Lula, espécie de senha mágica para decidir num toque de tecla a próxima eleição presidencial, por ora monopolizada, entre os que são realmente postulantes, por Jair Bolsonaro, da extrema-direita, anti-lulista e anti-petista visceral. Desde que Lula foi condenado e, depois preso, o PT tem vivido de chicanas jurídicas, apelando, inclusive, para o mais humilde dos recursos o chamado embargo de declaração. A finalidade não é tanto a de liberar Lula da cadeia e pô-lo no palanque para pedir votos a céu aberto, mas, sim, é focada na tática de desmoralizar a Justiça, de perturbar magistrados, de criar um clima qualquer de convulsão(comoção) social.
O PT parte do pressuposto de que democracia é coisa para inglês ver e que o Judiciário no Brasil não tem independência nem solidez de convicções e argumentos para deliberar motu próprio, sem ingerência de quem quer que seja. Apelou-se até para uma comissão da ONU que nunca teve o poder de ingerência na soberania de outros países, por óbvio. Daqui a pouco vai-se recorrer à OEA, novamente ao papa Francisco, quem sabe a Donald Trump? Os petistas são bons de barulho, sempre foram. Mas não sonos da Lei nem da Justiça. Esse é o ponto.
Nonato Guedes