A questão do destino a ser dado à Granja Santana residência oficial do governador da Paraíba voltou à tona na atual campanha eleitoral com o discurso do candidato Tárcio Teixeira, do PSOL, de que pretende transformar o imóvel numa espécie de Centro Cultural com equipamentos de lazer para atender à comunidade e não aos eventuais ocupantes do poder. O atual governador Ricardo Coutinho (PSB), que está concluindo seu segundo mandato, tem atravessado toda a fase administrativa convivendo incólume com a polêmica sobre o uso da Granja e reportagens chegaram a ser publicadas na imprensa nacional aludindo a gastos elevados com despesas domésticas, inclusive, de enxoval, quando a jornalista Pâmela Bório era casada com Ricardo e atuava como primeira-dama do Estado. O quiproquó em torno do assunto não alterou atitudes do gestor socialista para mudar o caráter de residência oficial da Granja.
Originalmente o imóvel foi adquirido no final do governo de João Agripino Filho (em 1971), diante da constatação de que seria impraticável a recepção a autoridades, como presidentes de República, no Palácio da Redenção, e, mais impraticável, ainda, a transformação do Palácio em residência oficial do governador e familiares. Agripino chegou a pedir ao casal Adrião-Creuza Pires, que possuía uma casa majestosa na avenida Epitácio Pessoa, que hospedasse presidentes da República e respectivas comitivas em visitas à Paraíba, no começo do regime militar. Os transtornos, porém, eram constantes, até que se erigiu o Hotel Tambaú, para receber autoridades visitantes e foi adquirida a Granja Santana como residência oficial do governante de plantão.
Em folguedos carnavalescos de rua em João Pessoa, nos últimos anos, em meio a denúncias da imprensa sulista sobre gastos excessivos na residência oficial do governador, blocos de foliões irreverentes saíram às ruas com o slogan Eu quero morar na Granja. Os próprios integrantes admitiam tratar-se de uma sátira aos donos do Poder, mas certas entidades e candidatos a governador passaram a encampar o bordão como prioridade de campanha, como se dá, agora, com Tárcio. Uma curiosidade referente à Granja: o governador Cássio Cunha Lima, eleito em 2002, optou por não residir com a família na Granja Santana, situada em Miramar. Argumentou que a GS lhe trazia maus fluidos e, por outro lado, desejava preservar a privacidade dos filhos. Seu pai, Ronaldo Cunha Lima, eleito em 1990, ocupou a Granja Santana tanto para despachos administrativos como para moradia familiar.
Cássio cogitou tornar a Granja Santana um espaço cultural, abrigando um Museu e outras atividades para visitação pública. O governador Roberto Paulino, que assumiu com a renúncia de José Maranhão para disputar o Senado em 2002, preferiu continuar se radicando na sua própria granja, em Água Fria. A GS passou a ser usada eventualmente por Paulino para despachos e visitas formais. O imóvel de Miramar foi comprado ao comerciante de ferragens Adalberto Soares de Oliveira. Já houve quem defendesse o uso da Granja como residência oficial como meio para evitar inconvenientes. Na Paraíba, mesmo, alguns analistas confrontados com a polêmica lembraram, certa feita, que no governo de Fernando Collor de Mello que acabou sofrendo impeachment houve confusão entre gastos oficiais e gastos privados, ao tempo em que Collor ocupava a Casa da Dinda, em Brasília, como residência oficial. A Casa da Dinda era um imóvel de família.
Nonato Guedes