Neto do ex-presidente Tancredo Neves, que não chegou a assumir a titularidade do Planalto mas ofereceu valiosa contribuição para o processo democrático e a preservação das instituições políticas, o senador Aécio Neves esteve próximo de bater na porta do Planalto em 2014, tendo perdido a corrida para Dilma Rousseff, que buscava a reeleição para, infelizmente, ser alvo de impeachment no segundo mandato. Hoje, Aécio é um político envergonhado após o linchamento moral porque passou quando pilhado em graves acusações de envolvimento com irregularidades no âmbito da Operação Lava-Jato. Tão envergonhado que, como candidato a deputado federal este ano por Minas Gerais, aparece na TV e no rádio no horário eleitoral mas não cita o próprio nome.
É triste ter que omitir a própria identidade. Aécio, nas aparições no Guia Eleitoral versão 2018, fala somente o número de urna e a versão é de que esta foi uma ideia dos estrategistas do neto de doutor Tancredo para tentar fazê-lo escapar de maiores vexames na disputa em curso. É uma tática de risco, que não garante nenhuma eleição a Aécio afinal, a imagem e a voz indefectível não ficam irreconhecíveis nessa aparição. Diga-se, ainda, a propósito, que Aécio desistiu, este ano, de concorrer à reeleição ao Senado para não ter que enfrentar novamente Dilma Rousseff (PT) e perder para ela. As projeções de institutos de pesquisas eleitorais sinalizam que Dilma lidera intenções de voto na corrida por uma das vagas ao Senado em Minas.
Aliás, Dilma hesitou, por algum tempo, em marcar presença nas eleições de 2018 fosse porque seu guru Luiz Inácio Lula da Silva está recolhido a uma cela em Curitiba, impedido de subir em palanques e pedir votos a céu aberto para candidatos de sua preferência, fosse porque a própria ex-mandatária, primeira mulher a ascender à suprema magistratura da Nação, não tivesse segurança sobre suas chances em novas disputas. A vacilação foi tamanha que a Sra. Rousseff cortejou vários Estados por onde ser candidata, entre os quais o Piauí. Na Paraíba, não faltou quem sugerisse que ela se candidatasse por aqui, embora não se conheça rol maior de feitos dela em benefício do Estado quando passou a temporada na presidência da República.
Dilma chegou a dizer que nutria certa ojeriza diante da perspectiva de assumir cadeira no Congresso, principalmente na Câmara Federal, por não suportar ficar frente à frente com deputados de diferentes Estados que votaram abertamente, no microfone, pelo seu impeachment, em sessão histórica no Congresso conduzida por Ricardo Lewandowski. Premiada com a indulgência de não ter afetados seus direitos políticos no bojo do impeachment, ao contrário do guru Lula, que é bloqueado na tentativa de se registrar novamente como candidato ao Planalto, Dilma nunca teve experiência parlamentar. Na verdade, ele caiu de para-quedas na política, já ingressando como candidata a presidente da República. Era o poste de Lula.
Não se sabe qual a contribuição importante que Dilma poderá emprestar ao equacionamento dos graves problemas nacionais no exercício do mandato de senadora, uma vez confirmada a sua eleição nas urnas de Minas Gerais. Na presidência da República, além de ser tutelada por Lula nos momentos críticos, Dilma celebrizou-se por uma série de boutades e passou a frequentar o folclore ao fazer saudações à bola de futebol ou à mandioca. Mas, como está livre e solta, e tinha pela frente um candidato que, por frouxura, desistiu de enfrentá-la, deverá estar na constelação senatorial que vai emergir das urnas este ano. O eleitorado no Brasil tem memória curta ou é masoquista? Senhores do voto, cabe aos eleitores responderem a essa indagação. Quanto a Aécio, até o presidenciável tucano Geraldo Alckmin avisou que quer distância dele. Não vou fazer campanha junto com Aécio, foi enfático, em entrevista, ontem, na rádio CBN. Pois é!
Nonato Guedes