No próximo dia 16 completará 23 anos a morte de Antônio Marques da Silva Mariz, um dos mais destacados políticos da Paraíba. Natural de João Pessoa, mas com liderança política firmada a partir da cidade de Sousa, onde se elegeu prefeito na década de 60, chegando a ser destituído do cargo, Mariz faleceu em 1995 quando estava no exercício do governo, acometido de câncer do cólon, na Granja Santana, residência oficial do governador da Paraíba. Nascido a cinco de dezembro de 1937, Mariz foi deputado federal e senador, projetando-se no Congresso em papéis como relator do processo de impeachment de Fernando Collor de Mello, então presidente da República, em 1992.
Mariz ascendeu ao governo do Estado na terceira tentativa que fez com esse objetivo. Em 1978, filiado à Arena, onde era um político dissidente, enfrentou o candidato oficial indicado pelo Palácio do Planalto por via indireta, Tarcísio Burity, em convenção partidária, sendo derrotado, embora sua pretensão tivesse tido amplo respaldo em camadas da sociedade que admiravam seu estilo ético, marca dominante na sua personalidade. Foi na cidade de Catolé do Rocha que Mariz conheceu as primeiras letras seu pai José Marques da Silva Mariz, advogado e político de Sousa, que foi deputado estadual e secretário de governo, foi transferido para Catolé por perseguição política, na interventoria de Ruy Carneiro, período que se iniciou na Paraíba em 16 de agosto de 1940.
Em 1982, Mariz foi candidato a governador pelo voto direto, sendo derrotado por Wilson Braga por uma diferença de 151 mil votos. Nessa época, Mariz já estava filiado ao PMDB, enquanto Wilson concorreu pelo PDS, sucedâneo da Arena, partido de sustentação do regime militar. Em depoimentos de análise das causas da derrota em 82, Mariz atribuiu o desfecho ao uso descontrolado das máquinas administrativas federal, estadual e municipais, bem como a instrumentos casuísticos adotados pelo regime para não perder o poder, a exemplo do voto vinculado. Braga era um candidato de linhagem populista, que vinha construindo carreira como deputado federal. O pleito teve a participação, pela primeira vez, do Partido dos Trabalhadores, que lançou Derly Pereira ao governo. Em 1994, Antônio Mariz logrou, finalmente, vitoriar ao Palácio da Redenção, tendo derrotado Lúcia Braga, mulher de Wilson e então deputada federal. Ele tinha como vice José Maranhão, emedebista histórico, que exercia mandato de deputado federal. Maranhão investiu-se na titularidade com a morte de Mariz e em 98 candidatou-se à reeleição, sendo proporcionalmente o mais bem votado do país. Ele derrotou o candidato Gilvan Freire, lançado pelo PSB, que tinha a simpatia dos Cunha Lima, ainda alojados no PMDB mas a caminho do PSDB, como se deu após a vitória de Maranhão.
Mariz, que era promotor de Justiça e um dos mais brilhantes parlamentares, já convivia com o câncer no curso da campanha eleitoral de 94, mas procurou cumprir os compromissos mais importantes e elaborar uma Carta-programa que pregava a execução de um Governo de Solidariedade na Paraíba. Ao ser visitado em São Paulo por Ronaldo Cunha Lima, que fora eleito senador, Mariz desabafou textualmente: Quando tinha saúde, perdi o governo; quando ganhei o governo, perdi a saúde. Casado com Mabel Dantas Mariz, ele não deixou herdeiros na política, embora sua atuação ainda hoje seja evocada como exemplo por antigos aliados e adversários. No relatório sobre o processo movido contra o ex-presidente Fernando Collor, Mariz proferiu um circunstanciado voto a favor do impeachment, justificando que eram bastante contundentes as acusações contra Collor no que diziam respeito à montagem de um esquema de corrupção dentro do governo federal, capitaneado pelo seu ex-tesoureiro de campanha Paulo César Cavalcanti Farias, o PC. Se eu tivesse convicção de que o presidente Collor é inocente, não hesitaria em absolvê-lo. Contudo,as provas são eloquentes quanto ao seu envolvimento e participação no esquema, arrematou Antônio Mariz no relatório. Em termos políticos estaduais, um dos últimos gestos marcantes de Mariz foi a reconciliação com o grupo Gadelha, de quem era adversário em Sousa, tendo aproveitado o ex-senador Marcondes na sua administração como secretário de Agricultura do Estado.
Nonato Guedes