Bafejado pelas bênçãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, a cúpula nacional do Partido dos Trabalhadores rendeu-se à força do fato consumado e oficializou a candidatura do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad para ocupar o lugar de Lula como titular da chapa à disputa presidencial. O vice de Haddad, a deputada estadual Manuela DAvila (PCdoB-RS), era candidata a presidente da República mas desistiu para facilitar uma composição com o PT, que estava na lógica dos acontecimentos desde as impugnações da postulação de Lula por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Em emissoras de rádio, por ocasião do horário eleitoral, o PT já apresentou formalmente como candidato, sem deixar de mencionar o ex-presidente Lula da Silva. A decisão mostra que os petistas decidiram não arriscar o investimento na candidatura de Lula, diante das evidências de embargo dessa postulação nos tribunais. Enquadrado na Lei da Ficha Limpa, sob acusações de envolvimento em atos politicamente condenatórios, Lula tinha Haddad como candidato in pectoris, rechaçando outras propostas que eclodiram no interior do próprio PT como alternativas. Analistas políticos sustentam que Lula vinha se preocupando mais com a sua inelegibilidade como candidato a presidente do que com sua prisão, sentenciada em 12 anos e um mês.
A missão de Lula, agora, será árdua e consiste em transferir votos, mesmo estando preso, na mesma proporção do que fez com relação a Dilma Rousseff, originalmente, em 2010, reafirmando a postura em 2014. A ex-presidente concorre a um mandato de senadora por Minas Gerais e vem demonstrando desempenho surpreendente em pesquisas de intenção de voto já publicizadas naquele Estado. Expoentes petistas admitem em off que Haddad será uma espécie de alto-falante de Lula no Guia Eleitoral e nos eventos de campanha que estão programados. A insistência do PT em viabilizar a candidatura de Lula vinha abespinhando petistas que são candidatos a outros cargos em diferentes Estados, pela atmosfera de instabilidade criada em torno da chapa e das alianças para a vitória no pleito de outubro.
A inclinação por Haddad, da parte de Lula, foi demonstrada em um episódio emblemático a designação do ex-prefeito de São Paulo para compor a banca de advogados de Lula. Tratou-se de uma estratégia para facilitar o livre acesso de Haddad à cela de Lula, dele recebendo orientações sobre como se comportar na disputa. Haddad já deu declarações seguindo essa linha ao qualificar Lula como um preso político, que estaria sendo punido injustamente. A entrada de Haddad em cena impõe reviravoltas nos comitês de outras candidaturas à Presidência da República. Os aliados do PT comemoram o fato de que, agora, há uma candidatura lançada à luz do dia, diferentemente do que vinha ocorrendo, quando Lula passou a atuar de forma semiclandestina em termos políticos. A estratégia do PT envolve valer-se de redes sociais para contrabalançar o adversário mais provável, o deputado federal Jair Bolsonaro, do PSL, que foi esfaqueado durante evento eleitoral em Juiz de Fora, Minas Gerais, e que oscilou para mais em pesquisa quentíssima, realizada com o objetivo de medir as tendências do eleitorado. O jogo começa pra valer agora, explicou um expoente da cúpula nacional petista.
Nonato Guedes, com agências