O ex-presidente da República, Ernesto Geisel (já falecido) teve passagens marcantes pela Paraíba na década de 30, e o seu trabalho e dedicação em pastas do governo do Estado motivaram o ministro José Américo de Almeida a cogitar lançá-lo a deputado federal, proposta que foi terminantemente recusada por Geisel sob o pretexto de que se considerava apenas um homem da caserna. No livro biográfico Do Tenente ao Presidente, o ex-ministro Armando Falcão narra que quem trouxe Geisel para o Nordeste foi Juarez Távora, que o conheceu através de Juracy Magalhães na fase conspiratória da Revolução de 30. Diz Falcão: Juarez, experimentado conhecedor de homens, nele (Geisel) identificou não só o ardoroso tenente de artilharia, com pouco mais de 20 anos, e sim, também, o patriota de futuro, que grandes serviços viria a prestar ao Brasil.
Na Paraíba, Geisel permaneceu até 1935 no desempenho de funções administrativas de relevo nas quais foi confirmando e ampliando dia a dia, pelos atos e iniciativas, o conceito de homem realizador, com segura visão dos problemas, inflexível severidade na boa aplicação das verbas orçamentárias e total devoção ao interesse geral, sem privilégios de pessoas, grupos ou facções, prossegue Falcão, que, aliás, foi ministro da Justiça de Geisel e ficou celebrizado pela frase lacônica Nada a Declarar, quando abordado pela imprensa sobre assuntos políticos e de governo. De acordo com Falcão, na Paraíba as oportunidades para o gaúcho Geisel foram criadas por Antenor Navarro e Gratuliano deBrito, que exerceram posto de interventor, como se denominava o governador do Estado. Ele se empossou na Presidência da República no ano de 1974 e ensaiou movimentos de avanços e recuos no processo de abertura institucional que se obstinara em materializar. Falcão diz que surgiram reações contrárias à nomeação de Geisel para secretarias como a da Fazenda, o que teria preterido nomes influentes da Paraíba.
Num diálogo mantido por José Américo com Ernesto Geisel, o escritor e homem público paraibano revelou que estava preocupado com o futuro do gaúcho e que por isso chegou a discutir com outras figuras proeminentes a hipótese de se eleger Ernesto Geisel deputado federal, ou, então, ensaiar-se um movimento para que ele fosse ocupante de uma função de relevo no governo federal, titulado por Getúlio Vargas. Agradeço o seu empenho por mim, mas eu não alimento pretensão de espécie alguma. Tenho uma pretensão definida, que abracei espontaneamente e a ela quero voltar. Estou aqui, prestando alguns serviços, por causa da Revolução de 30. Achei que era do meu dever ir para onde me mandassem e onde eu pudesse cooperar. Não tenho ambições políticas nem de outra qualquer natureza. O que eu quero é voltar para a caserna, detalhou Geisel, em resposta. José Américo entendeu a sua posição e Geisel cuidou de preparar-se para retornar ao Exército.
Geisel cumpriu com correção e competência missões militares para as quais foi designado também, no Rio Grande do Norte. Por ocasião do governo Gratuliano de Brito hospedava-se em uma pensão localizada nas imediações do Palácio da Redenção, sede do governo. Há uma versão, que algumas fontes não quiseram confirmar, de que Geisel teria se irritado com ex-companheiros de governo da Paraíba porque estes manobraram para inviabilizar o namoro que o jovem tenente estava tendo com uma jovem de nome desconhecido. Os secretários-colegas de Geisel temiam que o romance desviasse Geisel do rumo de outras atividades extremamente relevantes para sua carreira. O falecido deputado Ernani Sátyro chegou a admitir a este repórter ter ouvido especulações nesse sentido, mas ponderou que não poderia afiançar, com certeza, se o desaguisado teria mesmo se verificado. Na época das passagens de Geisel pela Paraíba, a administração estadual possuía um número mínimo de secretarias, não chegando a uma dezena o número de Pastas. A notoriedade adveio do prestígio de homens públicos convidados para integrar quadros administrativos paraibanos.
Nonato Guedes