Um tabu será novamente colocado à prova nas eleições deste ano, revela o jornalista e analista político Marcos Queiroz, especialista em Processo Legislativo, cujo comentário foi reproduzido na Paraíba pela revista TRIBUNA, do executivo Manoel Raposo. O tabu em questão vem a ser o fato de que o Rio Grande do Sul é o Estado que, na Nova República, nunca reelegeu um governador sendo o único, por óbvio, no cenário nacional. Mesmo com a vantagem competitiva de poder disputar o pleito no exercício do cargo, com toda a máquina do governo em suas mãos, os governantes não têm recebido a confiança do povo gaúcho para continuar no comando do Estado, acrescenta Queiroz.
Um fenômeno político-eleitoral, certamente. O atual governador José Ivo Sartori, eleito em 2014 pelo PMDB, atual MDB, tentará quebrar a escrita e ser o único a conseguir governar por oito anos consecutivos. Até então, Sartori vinha liderando pesquisas de intenção de votos, mas em se tratando do Rio Grande do Sul, isto não quer dizer muita coisa. Além da conjuntura local, a história pode justificar a constante renovação no governo do Estado. A consciência política do Rio Grande do Sul, analisa Queiroz, é forjada nos conflitos civis vividos ao longo dos tempos, no qual a Revolução Farroupilha é o evento mais conhecido e que influenciou culturalmente a formação da identidade do povo gaúcho.
Prossegue ele: Ao ler o primeiro volume da biografia de Getúlio Vargas, escrita por Lira Neto, descobri que a tradição de não reconduzi governantes é uma realidade bem mais antiga do que imaginava e vem desde o começo da República Velha. Tudo começa em novembro de 1922, quando Borges de Medeiros, líder do Partido Republicano Riograndense e padrinho político de Vargas, exercia o quarto mandato (dois consecutivos) como presidente do Rio Grande do Sul (designação dos governadores de Estados à época), concorreu a um novo período de cinco anos à frente do Palácio Piratini. Seu adversário era Assis Brasil, principal liderança do Partido Federalista e ferrenho opositor do grupo republicano.
Borges obteve a maioria dos votos mas não alcançou os ¾% necessários para vencer a eleição, conforme previa a Constituição estadual de 1891. Getúlio Vargas era deputado estadual e presidia a Comissão de Constituição e Poderes da Assembleia dos Representantes, colegiado responsável por aferir o resultado da eleição e teria comandado uma fraude na contagem dos votos proclamando a reeleição de Borges. A divulgação do resultado fez eclodir uma guerra sangrenta entre os partidários dos Republicanos, conhecidos popularmente como Chimangos, e dos Federalistas, chamados de Maragatos. O conflito teve início em janeiro de 1923, durou cerca de onze meses e somente teve fim com o Pacto de Pedras Alta, firmado na cidade do mesmo nome em uma propriedade de Assis Brasil. A paz entre os dois lados foi selada graças a um acordo que garantiu a Borges de Medeiros a conclusão do quinto mandato, mas em contrapartida houve uma reforma da Constituição gaúcha, que proibiu a reeleição ao governo do Estado a partir da eleição de 1928. Desde então, a tradição vem sendo mantida e nenhum governante foi reeleito no Rio Grande do Sul. Será que essa história vai ter continuidade em 2018?, indaga Queiroz. A conferir!
Nonato Guedes