O economista paraibano Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, abordou em artigo na revista Veja o fracasso da Educação no Brasil, advertindo que sem boa qualidade no ensino seremos um país medíocre. Para ele, escolhas erradas explicam o fracasso do Brasil na educação. No pós-guerra, priorizou-se o ensino superior, e não o fundamental, como se deveria. Em 1955, o gasto com cada aluno universitário equivalia a 95 vezes o efetuado com um aluno do curso fundamental. A partir da década de 80, optou-se por aumentar o gasto no setor, negligenciando-se a qualidade.
Prossegue Maílson: Nos anos 50-60, dizia-se que a educação seria consequência do desenvolvimento. Em 1950, gastávamos 1,4% do PIB na área. A taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais era de 50,6%. Depois, percebeu-se que a educação é a base do desenvolvimento e seria preciso aumentar o gasto público na área, daí a emenda constitucional 24/1983, de autoria do senador capixaba João Calmon, que destinou 13% dos impostos da União e 25% de estados e municípios para a manutenção e o desenvolvimento do ensino.
A Constituição de 1988, conforme Maílson, ampliou a obrigatoriedade da União para 18% dos impostos. Desde então gasta-se bem mais. No período tucano, universalizou-se o ensino fundamental. Nos anos petistas, em repetição do erro, abriu-se um monte de universidades e privilegiou-se o ensino superior com bolsas de estudo e financiamento. Houve avanços, já que a taxa de analfabetismo caiu para 7% em 2017. E quase todas as crianças estão na escola. Além do mais, a escolaridade alcançou 7,8 anos (era de menos de dois anos em 1960), mas ainda assim é a mais baixa dos países do Mercosul. O gasto com a educação pública atingiu 6% do PIB, superior à média das nações mais ricas (5,5%), da Argentina (5,3%), do Chile (4,8%) e da Colômbia (4,7%).
– Apesar disso adverte Maílson da Nóbrega a qualidade continua precária. Na principal avaliação internacional, a do Pisa, com 70 países, o Brasil é o quinquagésimo nono colocado em leitura, 0,63% em ciências e o sexagésimo sexto em matemática. Pesquisa do World EconomicForum em 137 nações situa a qualidade de nosso ensino fundamental na centésima vigésima sétima posição; a do ensino superior, na centésimavigésima quinta. Nosso aluno se sai pior do que o do Vietnã. Recentemente o Ministério da Educação divulgou desastrosos dados da Prova Brasil e os de avaliação do ensino médio. O desempenho ficou bem abaixo das metas.
O ex-ministro revela ainda que a China gasta menos de 4% do PIB em educação, mas é quem possui o maior contingente de cientistas na área de inteligência artificial. Avança-se lá em robótica, há domínio da nanotecnologia e os seus alunos estão entre os primeiros no Pisa. Diante do esgotamento do bônus demográfico, o crescimento econômico brasileiro dependerá essencialmente de ganhos de produtividade, para o que será decisiva a melhoria da qualidade da educação. Bons exemplos não faltam como é o caso de China, Finlândia e Cingapura. Há muito que aprender com alguns estados como Ceará, Pernambuco, Espírito Santo e Goiás. Recursos existem, ideias não faltam. Agora, o desafio está no campo da gestão e de uma estratégia de longo prazo. Sem melhorar a qualidade do ensino, o futuro do Brasil será de estagnação e mediocridade, finaliza Maílson da Nóbrega.