Um fato novo tem chamado a atenção de eleitores e analistas políticos na campanha eleitoral deste ano na Paraíba: o pacto entre os prefeitos de João Pessoa e Campina Grande, as duas maiores cidades do Estado, com vistas a eleger uma chapa familiar ou puro sangue ao governo. Luciano Cartaxo (PV), prefeito reeleito de João Pessoa, e Romero Rodrigues (PSDB), prefeito reeleito de Campina Grande, segundo colégio eleitoral da Paraíba, aliaram-se e avalizaram a chapa encabeçada por Lucélio, irmão gêmeo de Luciano, a governador, e Micheline, esposa de Romero, a vice. Um outro aspecto interessante, na história, é que no início das articulações para a disputa deste ano, tanto Luciano como Romero anunciaram-se pré-candidatos ao governo, em nome de um agrupamento de oposição ao governador Ricardo Coutinho, que apoia João Azevêdo à sua sucessão.
Para surpresa geral, tanto Luciano como Romero decidiram permanecer nos cargos que ocupam até o último dia dos mandatos e invocaram como justificativa para desistência das candidaturas ao governo estadual a dificuldade de união do agrupamento oposicionista. Na sequência, reavaliaram o cenário e lançaram o irmão e a esposa para compor a chapa. O senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, que tem ligações familiares com Romero e é candidato à reeleição, teve papel decisivo na costura da chapa que finalmente emergiu. Cássio faz dobradinha para o Senado com a deputada estadual Daniella Ribeiro, do PP, irmã do deputado federal Aguinaldo Ribeiro.
Médica, com atuação junto a camadas carentes da população de Campina Grande, Micheline é neófita em política até então, atuou nos bastidores nas campanhas do marido a deputado estadual, federal, vereador e prefeito da Rainha da Borborema. Lucélio, que foi superintendente da CBTU, órgão do governo federal, disputou o Senado em 2014, obteve expressiva votação mas perdeu a vaga para José Maranhão, que no pleito atual concorre novamente ao governo do Estado pelo MDB, tendo como vice Bruno Roberto, filho do deputado federal Wellington Roberto, do PR. Foi a primeira investida de Lucélio no campo político ele também operava nos bastidores das campanhas do irmão gêmeo Luciano. Os Cartaxo são naturais da cidade de Sousa, no Sertão, mas se envolveram em militância política na Capital.
O governador Ricardo Coutinho, que também optou por ficar no governo até o fim, abrindo mão de concorrer a uma vaga de senador, com chances de vitória, conforme alguns analistas, tenta descaracterizar a chapa Lucélio-Micheline apontando-a como oligárquica ou familiar, produto de um suposto arranjo entre clãs para se revezarem no poder. Ricardo foi aliado de Cássio, que em 2010 o apoiou ao governo, na primeira disputa vitoriosa dele ao Palácio da Redenção. Em 2014, concorreu contra Ricardo, que o derrotou na tentativa de alcançar a reeleição. Além da importância como colégios eleitorais, João Pessoa e Campina Grande têm preponderância no Produto Interno Bruto do Estado, dados os investimentos que têm sido feitos na expansão econômica e industrial das duas metrópoles. Lucélio enfrenta dois concorrentes respeitáveis José Maranhão, que já assumiu o Palácio da Redenção por três vezes, e João Azevêdo, que faz sua estreia na disputa de mandatos mas conta com a retaguarda do governador Ricardo Coutinho e da militância girassol, como é denominado o agrupamento que segue o PSB no Estado. Pesquisa do Ibope, na largada, detectou vantagem de Maranhão e vulnerabilidade de Lucélio, mas, de lá para cá, as mobilizações foram intensificadas, a campanha ganhou volume e radicalização e os prognósticos, a esta altura, estão embaralhados.
Nonato Guedes