Fosse vivo, o grande amigo Amir Gaudêncio diria que houve uma atrasada do Uray, historinha que remete ao futebol paraibano fiquem tranquilos. Refiro-me ao recuo do candidato oficial do Partido dos Trabalhadores a presidente da República, Fernando Haddad, nas declarações que se espalharam nos últimos dias em redes sociais, com petistas de alto coturno insinuando que se o candidato-substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva for eleito sua primeira providência será conceder indulto ao líder petista, que está preso em Curitiba, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O tom enfático dessa pregação foi um insulto à Justiça, que é quem tem a prerrogativa de deliberar sobre se é conveniente manter o ex-presidente Lula da Silva solto ou preso. Aliás, para sermos honestos produto cada vez mais escasso entre cabeças pensantes do país hoje o próprio Lula sinalizou a ministros do Supremo que não está ansioso para deixar a cela em que está recolhido. Isto se deu quando de manobras do partido, à revelia de Lula, para provocar no TSE e no STF a discussão sobre a elegibilidade ou não de Lula em face da condenação. Senhor absoluto dos fatos (ele sabe o que fez e pelo que está pagando)o ex-presidente Lula da Silva baixou um ultimatum determinando que esse tema fosse tirado de pauta entre advogados seus e próceres petistas interessados em lhe mostrar serviço. A questão saiu de pauta.
Pode parecer absurdo ou incrível, mas a verdade é que para Haddad a continuidade da prisão de Lula, sem maiores transtornos, embaraços ou nem de longe qualquer sinal de tortura ou de violência, é estrategicamente conveniente do ponto de vista político-eleitoral porque fornece ao PT o discurso ou a narrativa que ele não tem mais para persuadir a opinião pública, construídos em cima de um pretensioso golpe que teria começado com o impeachment da Sra. Dilma Rousseff e chegado à exaustão com a prisão de Lula. Os dois fatos, como sabe a inteligente opinião pública brasileira, não são correlatos, mas o PT tem especialistas em vender gato por lebre, de tal sorte que até intelectuais oferecem préstimos gratuitos à causa da mistificação ou seja, da narrativa do golpe e da violência contra Lula.
Para manter Fernando Haddad em evidência e polarizando com Jair Bolsonaro, o candidato da extrema-direita e do discurso vazio, é fundamental manter as coisas como estão. Lula não está sendo molestado, apesar de, vez em quando, o PT forçar a barra acionando uma comissão da ONU, fazendo vigília junto a organismos internacionais. Tudo isto faz parte do enredo da vitimologia que o PT e Lula escolheram para manter a retórica política-eleitoral na campanha deste ano e reverter a onda de desgaste que vinha se acentuando com os escândalos envolvendo petistas em roubos de dinheiro público, em chantagens e outras manobras associadas à extorsão e a outras práticas típicas de organizações criminosas. Essa pecha o PT recusa, por óbvio. As coisas vão continuar, então, em banho-Maria até o desfecho do primeiro turno. É uma espécie de data-limite para o PT aferir até onde está indo a pantomima que se deliberou passar para os desinformados na opinião pública ou se a encenação não surtiu o efeito desejado. Dependendo de como estiverem os números, o PT consultará seu paxá na cela da Polícia Federal em Curitiba para saber quais são as novas ordens. Assim caminha a Humanidade, como dizem os camaradas petistas.
Nonato Guedes