Uma reportagem da revista Época que mereceu capa relata, em detalhes, o parto laborioso em que se constituiu a aceitação da candidatura do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a presidente da República, pelo PT, em substituição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado inelegível por estar preso e processado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A confirmação de Haddad sofreu resistências nas hostes petistas que fazem restrições ao ex-prefeito paulista. O grupo que faria oposição interna a Haddad teria entre seus representantes os ex-presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia, e Marco Maia, o ex-chefe de gabinete de Lula na Presidência da República, Gilberto Carvalho, e a presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, senadora Gleisi Hoffmann.
Consta que Gleisi lutou para figurar como vice de Lula na primeira chapa que originalmente deu entrada no Tribunal Superior Eleitoral. A chapa tinha Lula na cabeça e Haddad como vice, com a perspectiva de que a deputada estadual Manuela DAvila, do PCdoB do Rio Grande do Sul, passasse a ser vice de Haddad em caso de problemas judiciais, que terminaram acontecendo. Pelo que a reportagem dá a entender, Haddad foi praticamente improvisado, às pressas. Dentro do partido transitavam outras opções, como Jaques Wagner, ex-governador da Bahia. A grande expectativa que vigora, atualmente, diz respeito ao percentual de votos que Lula pode transferir para Haddad no Nordeste, evitando uma migração para nomes como Ciro Gomes, do PDT.
No Nordeste, conforme alguns levantamentos, o percentual dos que seguiriam a indicação de Lula é expressivo: 49% dos eleitores disseram a um instituto de pesquisas que votariam com certeza em um nome escolhido por Lula. No final de agosto, o Ibope apontava que o ex-presidente Lula dispunha de 57% das intenções de voto somente em Pernambuco, que é governado pelo PSB. Uma sondagem realizada pelo Ipespe(Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas, mostrou que Haddad, quando aparecia para o eleitor como apoiado por Lula atinge 13%, ficando em segundo lugar atrás de Jair Bolsonaro, que atrairia 21%. Esse cenário, na opinião dos petistas, tende a experimentar uma reviravolta nesta fase final.
Além de não ter sido reeleito prefeito de São Paulo, Fernando Haddad é tido como pouco confiável ao PT por certas correntes e teria sofrido restrições do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, por questão de pragmatismo, acabou aderindo ao seu nome. Algumas versões dão conta de que, ainda agora, Haddad sente-se inseguro, incomodado e de mãos atadas com todo o processo. No início da sua campanha, não contava com assessoria direta e a campanha foi se desenrolando já com ele mas sem ter necessariamente a sua cara. A situação teria começado a mudar. Gleisi Hoffmann, além de não se dar bem com Haddad, frustrou-se por não ter sido indicada por Lula. Se está longe de ser uma unanimidade dentro do PT, onde não é considerado um quadro ortodoxo, Haddad passou a ser respeitado como alternativa capaz de levar o partido ao segundo turno num confronto provável com Jair Bolsonaro. As ordens de Lula, não por acaso, foram no sentido da superação das divergências internas em nome de objetivos maiores. Dentro do PT, à boca pequena, comenta-se que se Haddad for eleito, o ex-presidente Lula terá participação efetiva numa sua administração. A ordem, contudo, é para evitar especulações a respeito a fim de não desviar a legenda do foco da eleição do candidato próprio.
Nonato Guedes