Deve ser duro ser político. Deve ser mais difícil ainda, para o político, convencer o eleitorado a votar nele, independente de legendas (no Brasil, a tradição mostra que esse negócio de partido nunca pegou, a não ser para preencher requisitos legais). A dureza em ser político, especialmente nos dias de hoje, advém da constatação reiterada em pesquisas ou sondagens de que o descrédito da classe política é generalizado. E quando falo que não há diferenciação ideológica tenho em conta que caiu a máscara do PT, o último bastião da ética, da moral e dos bons costumes no Brasil, hoje alvejado em suas entranhas por escândalos envolvendo falcatruas, caixa dois, roubalheira, enfim. Está tudo nivelado por baixo, é claro.
Daí que em função disso os candidatos são levados a praticar verdadeiros malabarismos retóricos para merecer o ambicionado voto na urna. Já que o dinheiro, teoricamente, é amaldiçoado e a persuasão ideológica é uma miragem, não resta aos candidatos outra saída senão caprichar no gogó ou seja, tentar levar o eleitor na lábia, lançando mão, para tanto, de propostas até exóticas. Como a do candidato do PSOL ao governo da Paraíba, Tárcio Teixeira. Ele garante que, se eleito, vai implantar na Paraíba o Congresso do Povo, cuja missão é discutir a estrutura de governo, propondo uma revisão, também, na estrutura do Poder Judiciário. Tárcio se trai no seu raciocínio na verdade, o que ele quer mesmo é escancarar privilégios existentes no Judiciário e, por via de consequência, criar as condições para uma espécie de levante popular que consiga extinguir tais mordomias.
O professor Tárcio aparenta ser um saudosista dos bons tempos do comunismo ou do socialismo no Leste europeu, em que tudo era falado incluindo-se Povo no meio, e os cidadãos comuns eram tratados como camaradas, dando-se uma falsa ideia de igualdade, porque, na prática, os camaradas do Poder nadavam em mordomias nas dachas espalhadas por todo canto, da União Soviética de Stálin e Brejnev à Albânia do camarada EnverHoxha, passando pela China de Mao TseTung e pela Cuba de Fidel Castro, com nuances distintas mas perfunctórias. Bobagem tentar fazer crer que os camaradas comunistas ou socialistas não gostam das mordomias do Poder. Há exemplos de dirigentes de esquerda mais capitalistas que certos governantes carimbados de direita em algumas potências mundiais.
Mas, voltemos à pequenina Paraíba e aos cuidados do professor Tárcio com a transparência e a radicalidade democrática, refletida nesse Congresso do Povo que, pelo que ele diz, praticamente anularia ou substituiria a atual Assembleia Legislativa. Não está bem explicitado ainda, talvez porque o professor Tárcio tenha pouquíssimo tempo de rádio e TV, mas o tal Congresso do Povo deverá monitorar o Governo Revolucionário que deverá emergir da lavra do PSOL se for bafejado pelas urnas. Cuido que seja uma proposta exótica- poderia concebê-la como legitimamente democrática ou como expressão legítima, verdadeira, da democracia. Não tenho mais idade, entretanto, para utopias que, de perto, vi serem impiedosamente desmanteladas na minha frente, sob meus olhos, como a prevenir-me de que é duro brigar com a realidade. Ainda que a demagogia seja livre e, ao que se saiba, não seja cabível de punição em nenhuma lei, nenhum decreto, nenhum édito destes tempos republicanos(?) que respiramos no Brasil.
Nonato Guedes