O súbito crescimento, em tempo recorde, do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, em pesquisas de intenção de voto para a eleição a presidente da República, tem uma explicação: a articulação desencadeada de dentro da cela, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que seria o candidato natural do PT mas foi barrado pela Justiça Eleitoral devido à sua condição de presidiário e ao seu enquadramento na Lei da Ficha Limpa, acusado de lavagem de dinheiro e recebimento de propina. Lula, de acordo com o colunista Leandro Mazzini, que assina Esplanada em vários jornais do país, é quem está pautando uma agenda de campanha diferenciada para seu pupilo Haddad, escolhido por ele para substituí-lo no páreo.
O ex-presidente tem feito, para controle de Haddad, o mapeamento de segmentos e lugares onde os adversários do PT ainda não mostraram suas caras para valer, com isto abrindo flancos para a continuidade da penetração do Partido dos Trabalhadores. Um dos exemplos da estratégia arquitetada por Lula foi a gravação, pela deputada Manuela DAvila, vice de Haddad e filiada ao PCdoB, de um vídeo de apoio às demandas LGBT e questões de direitos humanos. Por sua vez, Haddad tomou a iniciativa de ir conversar com pescadores em Itajaí, Santa Catarina, o maior estado pesqueiro do Brasil. Um discurso via rádio, conforme alegam os petistas, alcança os pesqueiros em boa parte da costa do país e atinge o público de Lula, que, por sua vez, precisa apresentar Haddad.
Além dessa ofensiva concreta, o PT e Lula apostam fichas na transferência espontânea de votos de Lula da Silva para Fernando Haddad em ambientes e localidades distintas do território nacional. Afirma-se, dentro do PT, que em paralelo com a transferência de votos canalizada por Lula da Silva, Haddad beneficia-se da falta de visão dos adversários, que até o momento não falaram diretamente a grupos aparentemente minoritários mas que trazem votos e poderão definir a sucessão presidencial. O efeito do rádio é imediato nas classes B e C o eleitor de Lula, do PT e, agora, de Haddad. Lula conhece esse mecanismo muito bem, por isso manteve um programa diário quando presidente, revelam seus interlocutores.
Haddad já não faz segredo, em entrevistas, de que o ex-presidente Lula terá influência importante num eventual governo seu. Não chega a dizer isto de forma ostensiva, mas, nas entrelinhas, dá a entender que Lula terá papel-chave em muitas decisões que forem tomadas após uma virtual vitória. Em nome dessa perspectiva é que Haddad está sendo orientado a jogar com cautela e habilidade no tabuleiro da sucessão, invocando o nome e a influência do ex-presidente Lula nos ambientes que são receptivos a esse tipo de pregação e esquivando-se de comentários ou opiniões a respeito em outras esferas. É uma estratégia muito bem calculada que tem tudo para dar certo, expressou um grão-vizir petista, deixando-se trair na confidência da articulação em marcha para tornar Haddad a continuidade de Lula, seja como for.
Nonato Guedes