No livro As 16 Derrotas Que Abalaram o Brasil, o jornalista Sebastião Nery, comentando a vitória do falecido senador paraibano Ruy Carneiro sobre Aluízio Campos, numa das batalhas em que se enfrentaram, em 1974, referiu-se a outras vitórias alcançadas pelo líder político de Pombal e emendou: Um dia, quando ele sair do Senado, pode-se cunhar em bronze uma placa com os dizeres: Aqui viveu meio século um homem que acreditava na força do povo. Ruy Carneiro faleceu em 20 de julho de 1977 e era, inegavelmente, líder popular, conforme o jornalista João Manoel de Carvalho e o sobrinho dele, Antônio Carneiro Arnaud, ex-prefeito de João Pessoa, em ensaios publicados na imprensa estadual.
Em 1974, ao chegar à Paraíba para a campanha ao Senado, numa entrevista coletiva perguntaram se ele não temia enfrentar o candidato da Arena, que tinha o apoio de várias máquinas administrativas e inúmeros prefeitos e parlamentares, reproduzindo força política teoricamente expressiva. A resposta de Ruy foi manchete dos jornais e virou slogan da campanha vitoriosa: Eu sei que a Arena na Paraíba é um partido mais forte do que o MDB. Mas muito mais forte do que a Arena e o MDB é o povo. E quem elege não é partido, é o povo. Tinha o povo, ganhou com 297.780 votos contra 278.590. Segundo Nery, sem gastar os bilhões de Aluízio nem a garganta rouca de Ernani Sátyro, que perdeu em sua própria terra, Patos. Ruy era um campeão de eleições.
As vitórias de Ruy nos pleitos para o Senado realizados em 1950, 1958, 1966 e 1974 foram conseguidas sobre nomes de grande valor. Na primeira vez venceu o professor Pereira Lira, seu concunhado, que acabara de exercer a Chefia da Casa Civil da Presidência da República, no governo de Eurico Gaspar Dutra. Na segunda vez, teve retumbante vitória sobre o ministro José Américo de Almeida, um dos maiores vultos do Estado e do país, quer no campo político, quer nas letras. As duas últimas vitórias foram conquistadas sobre o economista Aluízio Afonso Campos, que além de culto era financeiramente abandonado. Ruy conseguiu todas essas vitórias porque era um dedicado à sua terra e aos seus conterrâneos. Era tão arraigado este espírito de servir ao povo que foi apelidado de escravo branco da Paraíba, anota Carneiro Arnaud em seu testemunho.
Ruy concluiu curso superior na tradicional Faculdade de Direito do Recife em 1927. Não conseguindo ser médico, como era seu desejo, achou que o melhor caminho para servir ao próximo era através da atividade política. De 1934 a 1937 assumiu a deputação federal na qualidade de primeiro suplente, substituindo o doutor Izidro Gomes, que, tendo sido eleito, não quis ir para o Rio de Janeiro exercer o mandato conquistado. Após o golpe de 1937, implantado o Estado Novo, passou a exercer as suas atividades no Banco do Brasil, no gabinete do presidente João Marques dos Reis. Foi interventor do Estado, destacou-se em outros mandatos, mas o Senado parecia o seu habitat natural. Ainda hoje ressoa, na Paraíba, em algumas rodas, quando se evoca o nome de Ruy Carneiro, a frase que virou slogan vitorioso: Forte é o Povo!.
Nonato Guedes