O brasileiro é conhecido pelo trauma com vice-presidentes, nem sempre lembrados na hora da votação e depois dela, senão quando são convocados a assumir a titularidade, ora porque presidentes da República e governadores de Estados morreram, ora porque tiveram algum impedimento. De 92 para cá, dois vices ascenderam na esteira do impeachment de titulares Itamar Franco, quando do afastamento de Fernando Collor de Melo, envolvido com o esquema PC Farias, e atualmente Michel Temer, alçado ao cargo maior com o impeachment de Dilma Rousseff, acusada de pedaladas pelo Tribunal de Contas da União e outras irregularidades específicas de má gestão.
Dá-se que agora, surpreendentemente, pesquisa do Datafolha aponta que a maior parte do eleitorado dá pouca ou nenhuma importância ao candidato a vice na eleição presidencial que está se desenrolando. Em levantamento realizado entre a terça-feira e a quarta-feira, 29% dos entrevistados disseram que não há nenhuma importância no nome a vice no pleito presidencial e 25% consideram a questão com um pouco de importância. Consideram o vice uma questão de muita importância na eleição 43% dos eleitores entrevistados e 3% não souberam responder. Os vices ganharam um peso maior na eleição deste ano por dois fatores primeiro, o PT inicialmente escolheu Fernando Haddad para a função na chapa antes de o ex-presidente Lula ter o registro barrado na Justiça Eleitoral. Com Lula preso em Curitiba, Haddad atuou em agendas de campanha em nome do ex-presidente. No último dia 11, finalmente, ele foi colocado pelo partido como cabeça de chapa.
Um outro vice ganhou relevo na corrida eleitoral o general da reserva Hamilton Mourão, do PRTB, que passou a ser um representante de Jair Bolsonaro (PSL) em atividades da campanha já que o presidenciável foi hospitalizado desde que foi esfaqueado há duas semanas em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde realizava o tradicional corpo a corpo. A pesquisa Datafolha ouviu 8.601 eleitores em 323 municípios brasileiros nos dias 18 e 19 de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%, conforme revela a Folhapress.
O PT costuma ser criticado na campanha em andamento por ter escolhido para vice em 2014 Michel Temer (MDB), que assumiu a Presidência da República com o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Temer, aliás, é encarado como um dos ativos participantes da conspiração para derrubar Dilma do poder, em articulação estreita, na época, com o PSDB. Hoje, as relações do emedebista com tucanos estão estremecidas, face a críticas de Geraldo Alckmin a Temer. O caso mais emblemático de frustração nacional talvez tenha sido a investidura de José Sarney na Presidência da República em 1985, quando da morte de Tancredo Neves, que havia sido o escolhido na última eleição indireta do chamado Colégio Eleitoral. Tancredo havia criado expectativas positivas junto a uma grande parte da sociedade brasileira, sendo absorvido como presidente de transição, diante do seu compromisso de restaurar as eleições diretas no fim do seu mandato. Infelizmente nem tomou posse, cumprindo uma bateria de exames médicos em Brasília e São Paulo. Quem assumiu foi José Sarney, oriundo da antiga Arena, partido do regime militar. Para compensar a frustração generalizada, Sarney investiu no Plano Cruzado, congelando tarifas e dominando a inflação. Foi um sonho que durou pouco. O então presidente saiu do cargo colecionando um dos piores índices de aprovação popular, enquanto a inflação retornou com força total, virando novamente um tormento para os brasileiros.
Nonato Guedes