O ex-ministro da Casa Civil do governo Lula e ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores José Dirceu de Oliveira e Silva faz hoje em João Pessoa a sétima parada do que ele chama de caravana democrática na qual lança o primeiro volume do seu livro de memórias sobre a guerrilha política em que se envolveu em diferentes oportunidades, desde a militância estudantil e o combate à ditadura militar, passando pela clandestinidade, pela sua participação na organização do PT e sua prisão condenado a 30 anos por envolvimento com o escândalo do mensalão. Zé Dirceu, como é chamado por aliados e inimigos, tornou-se uma espécie de bruxo do PT, desempenhando papeis relevantes e cruciais, como o de patrocinar expurgos internos, enquadrar petistas recalcitrantes, empurrar o partido para constantes autocríticas e blindar a todo custo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ele considera o maior emblema do PT, uma espécie de galinha dos ovos de ouro do partido, devido ao carisma, empatia e liderança que granjeou no cenário político brasileiro e internacional.
Zé Dirceu está em liberdade condicional, podendo voltar à cadeia a qualquer momento. Ficar preso e ser solto esta tem sido a sua rotina nos últimos anos, desde que foi pilhado no caso do mensalão. Mas ele é respeitado por várias razões é ideólogo do PT, reconhecido como o grande estrategista, mantém uma visão lúcida acerca da conjuntura e em nenhum momento, no período em que esteve encarcerado, delatou companheiros de partido, ao contrário de cabeças coroadas como o ex-ministro Antonio Palocci, que sucumbiram ao desconforto da privação de liberdade e escolheram entregar segredos e pessoas em troca de redução de penas imputadas pela Justiça. Zé Dirceu, ao contrário, tem fôlego de sete gatos e invejável jogo de cintura. Seus rivais já disseram que ele é frio e cortante como lâmina. Numa entrevista em João Pessoa quando presidia o PT, Dirceu confessou seu sonho ser presidente da República sucedendo a Lula. Foi um sonho que ficou para depois, talvez para as calendas gregas, mas um fato é indiscutível: Zé é obstinado.
São inúmeras e polêmicas as facetas de José Dirceu. Natural de Passa Quatro, Minas Gerais, já tendo dobrado a faixa dos 70 anos, sua iniciação política foi na militância estudantil em 69 ele chegou a ser presidente da União Nacional dos Estudantes e um dos revezes que acompanhou foi o estouro de um denominado aparelho conspiratório formado por estudantes que se reuniram clandestinamente em Ibiúna, São Paulo, e caíram nas malhas da lei, após denúncias a autoridades policiais. Preso pelo regime militar, ele foi trocado pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado por forças de esquerda, e cumpriu exílio que chegou a Cuba, quando Fidel Castro estava no auge, tendo participado de treinamento para ser guerrilheiro. Não tinha vocação para pegar em armas e preferiu contribuir politicamente e escrever sua própria história de forma diferente. Fez cirurgia plástica no rosto, amargou a clandestinidade em solo pátrio e voltou à cena bafejado pela anistia outorgada pelo regime militar em 79.
No lançamento do seu livro, hoje às 19h, no Sindicato dos Bancários em João Pessoa, ele se dispõe a dar sua versão sobre acontecimentos recentes como o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirá que o PT errou por não ter se preparado para contrapor-se ao que chama de golpistas, rol em que inclui o ex-vice de Dilma, Michel Temer, do MDB. Mas Dirceu lembra as vitórias alcançadas nas urnas pelo PT, qualificando de proeza o fato de que a legenda ganhou quatro eleições consecutivas à presidência da República. O partido debilitou-se por não ter um nível de organização e militância para deter os golpistas, dirá ele aos que forem participar do debate no Sindicato dos Bancários após o lançamento e a sessão de autógrafos do livro inicial de memórias, que já figura entre os cinco mais vendidos em vários sites do Brasil.
Nonato Guedes