Em entrevista, ontem, em João Pessoa, onde veio lançar o primeiro volume do seu livro de memórias, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, principal expoente do escândalo do mensalão que atingiu líderes do Partido dos Trabalhadores, preveniu para o risco de um novo golpe militar no Brasil, a exemplo do que aconteceu em 1964, e declarou, taxativamente, que considera o capitão Jair Bolsonaro, candidato do PSL a presidente da República, uma ameaça à democracia. Para Dirceu, o processo que afastou a presidente Dilma Rousseff do poder foi feito exatamente baseado em um discurso de ódio.
O ex-ministro e ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores acrescentou que o ataque ao candidato Bolsonaro, vítima de uma facada durante ato público em Juiz de Fora, Minas Gerais, constituiu um fato isolado e não pode servir para definir uma eleição. Comentou, quando indagado sobre o caso do mensalão, que o levou à prisão, que o mensalão não existiu. A denúncia do Ministério Público Federal aponta que Zé Dirceu teve participação num esquema montado pela Engevix, uma das empreiteiras que formaram cartel para fraudar licitações da Petrobras a partir de 2005. Ele também garantiu ser inocente no episódio.
José Dirceu evitou aprofundar análises a respeito dos erros cometidos pelo Partido dos Trabalhadores e que, entre outras coisas, resultaram no impeachment de Dilma Rousseff e na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também considerado inelegível para as eleições presidenciais deste ano. Dirceu apenas reiterou um ponto de vista que tem externado ultimamente o de que o Partido dos Trabalhadores errou quando não conseguiu mobilizar a população para resistir ao impeachment de Dilma Rousseff, com o mesmo ímpeto com que os articuladores do processo se movimentaram. O ex-ministro, condenado no âmbito da Operação Lava Jato, percorre de carro há três semanas Estados do Sudeste e Nordeste do Brasil para lançar seu livro de memórias.
Zé Dirceu, entretanto, desistiu de ir a Macapá e a Boa Vista, capitais que estavam no itinerário de sua caravana. Belém do Pará será a última parada da primeira caravana que empreende. Em seguida, pretende descansar com os familiares em Brasília. Ex-todo-poderoso ministro no governo Lula e virtual candidato do PT a presidente da República, José Dirceu está solto sob liminar do ministro Dias Toffoli, agora presidente do Supremo Tribunal Federal, que está assumindo a presidência da República em virtude de viagem do presidente Michel Temer (MDB) a Nova Iorque.