Independentemente de sair vitorioso na eleição majoritária deste ano, com a eleição do candidato in pectoris João Azevêdo à sua sucessão, o governador Ricardo Coutinho (PSB) tem um reencontro marcado com a prefeitura de João Pessoa, que ele administrou por duas vezes, em 2004 e 2008, dela saindo para ser alçado ao Palácio da Redenção. Ricardo, como se sabe, optou por não concorrer ao Senado este ano, embora teoricamente fosse favorito para uma das duas vagas em confronto. Decidiu permanecer no cargo até o último dia do mandato, a pretexto de levar adiante projetos pendentes de conclusão. Quando tomou essa decisão, ele estava brigado com a vice-governadora Lígia Feliciano (PDT) e chegou a insinuar que o clã formado por ela e seu marido, o deputado federal Damião Feliciano, preparava-se para montar um governo paralelo ao seu e que, de sua parte, não toleraria tal manobra.
Para surpresa geral, Ricardo reconciliou-se com o clã Feliciano, patrocinando a permanência de Lígia como vice na chapa encabeçada por João Azevêdo. Seria uma tática para manter a representatividade de Campina Grande, segundo maior colégio eleitoral do Estado, na chapa, uma vez que Lígia e Damião têm influência residual na Rainha da Borborema. Há quem diga que Coutinho optou por manter Lígia devido à dificuldade de atrair nome influente em Campina capaz de neutralizar o grupo Cunha Lima, seu grande adversário. O governador não se preocupou em dar satisfação à opinião pública da reconciliação com um clã que, conforme insinuara, queria prejudicá-lo. A esta altura, o acirramento da campanha, com a perspectiva de Azevêdo ir para um segundo turno, tornou ociosas quaisquer especulações.
Teorizar sobre se Ricardo apoiará José Maranhão (MDB) ou Lucélio Cartaxo (PV) se eles forem para o segundo turno, desbancando João Azevêdo, é também superficial para analistas políticos pela simples razão de que o governador não trabalha com esse cenário. E em último caso, terá a oportunidade de imitar o ex-governador Tarcísio Burity, que em 90, ao final do seu segundo mandato, não tendo o seu candidato João Agripino Neto emplacado presença no segundo turno, concentrado entre Ronaldo Cunha Lima e Wilson Braga, cruzou os braços literalmente, assistindo de camarote à batalha decisiva, não obstante João Neto tenha tido a liberdade de declarar apoio e voto em Ronaldo, o que contribuiu para a vitória deste. Ricardo é tido como um personagem imprevisível, o que dificulta projeções ou apostas sobre atitudes que tomará na proporção do estado em que se encontrar o seu humor.
Para além da disputa ao governo do Estado este ano, em que comparece como cabo eleitoral de um dos candidatos, Ricardo estaria mirando o pleito municipal de 2020, quando terá diante de si a possibilidade de concorrer com chances de vitória à prefeitura de João Pessoa. Se por acaso Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo do atual prefeito da Capital, Luciano, ascender ao governo, Ricardo terá uma tribuna de oposição para ocupar, e até adversários reconhecem que fará isto com competência. Em termos partidários, manterá o controle sobre o PSB e, se for ocaso, poderá lançar João Azevêdo como seu vice na Capital, preparando-se para um retorno ao governo estadual. Absurdo? Não, se forem adequadamente encaixadas as peças do tabuleiro político paraibano. Quem viver, verá!, profetiza um discípulo ortodoxo do governador Ricardo Coutinho, com uma segurança que impressiona aos neófitos. E cantando uma pedra que não está fora da lógica do jogo no Estado.
Nonato Guedes