Inúmeras eleições realizadas desde 1989 no Brasil, com direito a porres cívicos, a decepções trágicas, em meio a processos de impeachment envolvendo postiços salvadores da Pátria não foram suficientes para conscientizar o eleitorado a ter uma postura mais contida, menos apaixonada ou radicalmente fanática. Esta eleição de 2018 é movida a esses combustíveis fanatismo & paixão, sem garantia de que tais manifestações contribuam para elevar o debate, aclarar as ideias e permitir o convívio civilizado entre opostos. Não faltará quem diga: eleição sem paixão não tem graça. E é verdade. O que faz desaparecer a graça é a burrice alojada em certas concepções apaixonadas, que deixam o campo de visão toldado do ponto de vista da identificação de falhas de candidato(a)s que são mortais comuns.
Beira o ridículo a canonização erigida em torno do candidato Jair Messias Bolsonaro, que despontou como fenômeno, em condições de vencer a disputa presidencial, possivelmente num segundo turno, enfrentando Fernando Haddad, do PT. Ambos são encarnações extremistas Bolsonaro à direita, Haddad à esquerda, aniquilando os espaços virtualmente cobiçados por expoentes identificados com o centro ideológico, seja lá o que isso significar. Os bolsonaristas empedernidos não aceitam qualquer referência tida como desairosa ao candidato, ainda que ela expresse apenas a verdade. Por exemplo: é verdade que Bolsonaro não tem ideias de como governar o Brasil. Ele próprio já o confessou, quando disse que nada entende de economia.
O eleitor médio não cobra de Bolsonaro um diploma de formado em Economia. Mas certamente espera dele, no papel de candidato, com a ajuda do batalhão militar de assessores-economistas, que o capitão reformado saiba fazer alguma digressão a propósito do tema que mais martela a consciência do cidadão comum brasileiro. Os discípulos fanáticos não querem saber disso, aliás, não querem nem saber mais quem esfaqueou o candidato naquele evento de Juiz de Fora que o tirou de tempo na campanha, poupando-o de dizer besteiras, já que seu repertório é centrado apenas na Segurança. O que bolsonaristas fanáticos querem é vê-lo presidente. O Brasil que se exploda!
Vale o mesmo para os petistas e simpatizantes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tentou dar um golpe e uma rasteira na Justiça, exigindo o registro de sua candidatura ao Palácio do Planalto mesmo estando confinado a uma cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, acusado de lavagem de dinheiro e recebimento de propina. Lula e o PT desafiaram ostensivamente as autoridades deste país insistindo numa candidatura que era natimorta porque inviável do ponto de vista legal. Razão simples: Lula entrou na categoria dos ficha sujas, uma das maiores em circulação na fauna política brasileira. Mas a pressão foi grande, em cima da Justiça, para que se abrisse exceção para um presidiário. Não deu, é claro, para frustração dos petistas irresignados, que procuram a vingança na eleição de Haddad, ou Andrada, ou seja lá como for chamado. A democracia, quando consolidada, suporta ou absorve gestos de fanatismo e radicalismo, enquadrando-os nos limites da lei. O que a democracia, decididamente, não atura, é a patacoada dos fanáticos que querem insultar a inteligência. Menos, menos, menos…se é que há espaço para ponderações.
Nonato Guedes