O clã Cartaxo aposta todas as fichas na eleição de Lucélio a governador da Paraíba como estratégia para criar uma nova força política e obter espaços de hegemonia, em articulação com forças políticas satélites. O objetivo final é demolir ciclos que têm se revezado no poder, ora capitaneados pelo senador José Maranhão (MDB), candidato ao governo mais uma vez,ora pelo governador Ricardo Coutinho, reeleito duas vezes, que tenta emplacar como sucessor João Azevêdo e pretende mirar na prefeitura de João Pessoa uma vez encerrada a sua passagem pelo Palácio da Redenção, independente de João ser ou não eleito governador.
Para não se isolar politicamente, os Cartaxo lutam para preservar a composição com o clã Cunha Lima, liderado pelo senador Cássio, candidato à reeleição, e com ramificações pela prefeitura da Rainha da Borborema, ocupada pela segunda vez por Romero Rodrigues, cuja mulher, doutora Micheline, é candidata a vice na chapa de Lucélio Cartaxo. Essa composição poderá ser ampliada com a atração do clã Ribeiro, cujos expoentes maiores são o deputado federal Aguinaldo, líder do governo Michel Temer e cotado para ser um dos mais votados na disputa à Câmara em outubro, e a deputada estadual Daniella, que poderá assumir protagonismo relevante se for catapultada a uma vaga no Senado Federal.
Os Cartaxo já demonstraram ambição pelo poder e, em paralelo, jogo de cintura ou habilidade política para manter-se em evidência. Assim é que foram aliados de Maranhão (Luciano foi vice dele e ambos assumiram em 2009 com a cassação de Cássio), de Ricardo (que apoiou Lucélio ao Senado em 2014, quando ele obteve votação expressiva mas insuficiente para conquistar a cadeira titular) e agora compõem-se com Cássio Cunha Lima e com outras frações do agrupamento político que ele lidera no Estado. Há um esforço conjugado, sobretudo na reta final, para eleição de chapa completa, ou seja, Lucélio governador-Micheline vice, Cássio Cunha Lima e Daniella Ribeiro senadores. Não há garantias de que o cenário venha a ser este nas cinzas da disputa eleitoral, mas é essa a expectativa que atua como combustível da campanha de um agrupamento que faz oposição declarada ao governador Ricardo Coutinho e aos seus prepostos.
A disputa ingressa na sua reta final, não só na Paraíba como em todo o país, e a perspectiva natural é de intensificação da mobilização dos diferentes candidatos e das coligações distintas que colocam em jogo sua sobrevivência política na atípica eleição nacional de 2018, em que o candidato até então favorito a presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, está preso e impedido de concorrer, e o segundo favorito, Jair Bolsonaro, representante da extrema-direita, baixou a hospital em plena fase aguda da disputa por ter sido agredido como extensão de uma das facetas da disputa em curso a radicalização aguda. Bolsonaro foi esfaqueado em Juiz de Fora, Minas Gerais, por ocasião de evento de campanha, mas tenta se fazer presente na reta finalíssima até para sensibilizar eleitores e desviar votos que estariam se encaminhando para Fernando Haddad, o substituto de Lula na corrida presidencial. Para nós, o que interessa mais de perto é a conjuntura paraibana. E é certo que, noves fora resultados eleitorais, o mapa já está praticamente redesenhado, na configuração das forças políticas locais que se moveram de um canto a outro para melhor se acomodar. O eleitor é quem dirá se aprovou essas acomodações.
Nonato Guedes