Defenestrada do poder em 2016 por meio de um impeachment aprovado no Congresso sob acusação de pedaladas fiscais e outras irregularidades administrativas, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tenta sua reabilitação política como senadora, concorrendo em seu Estado natal, Minas Gerais, e detém chances concretas de ser eleita no dia sete de outubro. Ela enfrenta candidatos obscuros como Carlos Viana, do PHS, Dinis Pinheiro, do Solidariedade e Rodrigo Pacheco, do DEM. Seu maior feito foi conseguir afastar da corrida pelo Senado o atual senador Aécio Neves, do PSDB, derrotado por ela em 2014, e que, na dúvida sobre suas chances, preferiu enfrentar competição à Câmara Federal.
Nos discursos de campanha, Dilma procura explicar que foi afastada de Minas por causa do golpe militar de 1964, quando foi presa e torturada em meio a denúncias de participação em uma organização clandestina de esquerda. Ela tem dito que, no reverso da medalha, um outro golpe, o de 2016 que é como Dilma se refere ao seu impeachment reaproximou-a de Minas e do seu povo. Eu amo esse Estado, chegou a expressar Dilma, que insiste na tônica de que o golpe de 2016 trouxe apenas retrocessos para o Brasil, inclusive, no que diz respeito aos índices de mortalidade infantil, que voltaram a se agravar.
Primeira mulher eleita presidente da República duas vezes em 2010 e 2014 e também a primeira mulher a sofrer um impeachment na Presidência (antes dela, o primeiro homem a sofrer impeachment no cargo foi o atual senador por Alagoas, Fernando Collor de Mello, em 92, sob acusação de envolvimento com um esquema de corrupção liderado pelo seu ex-tesoureiro de campanha Paulo César Cavalcante Farias, o PC Farias. Collor tentou, este ano, candidatar-se novamente ao Planalto, pelo PTC, mas a legenda descartou a postulação alegando que prefere investir na eleição de uma bancada forte de deputados federais. Na sequência, Collor anunciou-se candidato ao governo de Alagoas, mas também desistiu por falta de apoio e receptividade. Ele chegou a ser mencionado como beneficiário de propina na Operação Lava-Jato.
Diferentemente de Collor, Dilma relutou bastante em concorrer ao Senado, alegando que não se sentiria à vontade convivendo com parlamentares que votaram pelo seu impeachment. Por outro lado, a ex-presidente sofre restrições dentro do Partido dos Trabalhadores, devido a ligações históricas que possuía com a liderança do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro Leonel Brizola. Em 2010, foi adotada pelo próprio Lula como candidata do PT a presidente e apresentada ao eleitorado brasileiro como Mãe do PAC. No exercício do governo, revelou falta de habilidade política, sendo criticada em conversas reservadas pelo próprio Lula, destinatário de queixas sobre as atitudes da ex-mandatária. Lula, entretanto, foi solidário com Dilma quando do impeachment, assumindo dentro do PT o discurso de golpe parlamentar contra ela. Na atual campanha, em que Lula está preso e impedido por lei de ser candidato a presidente, tendo sido substituído no páreo pelo ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Dilma, com sua candidatura ao Senado, passou a ser requisitada para contribuir com a campanha de Haddad, não só em Minas Gerais, mas em outros Estados.
Nonato Guedes