Dois fatos chamam a atenção nesta reta final das eleições para a presidência da República: o PSDB praticamente foi sugado do mapa (o seu candidato Geraldo Alckmin tem apenas 8% das intenções de voto) e o candidato do PT, Fernando Haddad, abençoado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de atropelos, vai se credenciando na disputa com 22%. A pesquisa do Ibope indica, inclusive, que Haddad, num segundo turno, superaria Jair Bolsonaro, o líder, arrebanhando 43% dos sufrágios contra 37% do expoente da extrema-direita e capitão reformado.
Fica evidenciado, de largada, o fim de um ciclo de polarização entre PSDB e PT, que se revezaram nos últimos anos na presidência da República. Nesses confrontos, o PT levou a melhor porque Lula foi eleito duas vezes e Dilma Rousseff também com a desvantagem de ter se desgastado pelo processo de impeachment, o que não foi suficiente para bani-la da política, tanto assim que lidera pesquisas ao Senado por Minas Gerais. Três candidatos tentaram ganhar do PT no segundo turno José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Ficaram pelo meio do caminho.
Alckmin, este ano, é candidato por ambição e por honra da firma. Tinha a veleidade de atrair para si o apoio do Centrão, agrupamento conservador formado a partir da Câmara dos Deputados, mas não empolgou nem tucanos nem assemelhados. A circunstância de o PSDB ter tido, também, o seu mensalão, é o de menos (a mesada, como se sabe, nasceu com Eduardo Azeredo em Minas Gerais, por artes de Marcos Valério, que, depois, emprestou seu know-how aos petistas, que agradeceram de coração). O que há é que o PSDB ficou girando em círculos, sem forjar outras alternativas palatáveis ou novidadeiras para o eleitorado, de tal modo que foi desarquivar o outrora picolé de chuchu Geraldo Alckmin, que hoje se identifica apenas como Geraldo, tentando forçar uma empatia que, da parte do eleitorado, não existe decididamente.
Desse ponto de vista, o Partido dos Trabalhadores demonstrou possuir quadros mais competitivos do que o PSDB. É o caso de Haddad, que se constitui num fenômeno por dois fatores teve péssima atuação como ministro da Educação e, por outro lado, não conseguiu reeleger-se à prefeitura de São Paulo, o que equivale a uma desaprovação ao seu desempenho como administrador. É indiscutível que o ex-presidente Lula da Silva, mesmo confinado a uma cela da Polícia Federal em Curitiba, ou talvez por isso, tenha tido papel decisivo para alavancar Fernando Haddad. Havia outras opções em exame e outros pretendentes se oferecendo no primeiro caso, Jaques Vágner, da Bahia, que Lula descartou; entre os pretendentes, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, envolvida em escândalos de corrupção e, portanto, descartada in limine.
A performance adquirida por Haddad em meio a uma campanha que foi deflagrada aos trancos e barrancos reforça a mitologia da capacidade de transferência de votos do ex-presidente Lula da Silva, primeiro com Dilma, agora com Haddad. Só essa explicação não basta ela é simplista demais para fundamentar as razões do cenário que está aí. A impressão que se tem é de que há uma revanche de parcelas da sociedade contra o processo que destituiu Dilma e, mais ainda, contra os fatos que levaram Lula à prisão. A comparação que se faz é com o cenário de um Aécio Neves solto e impune. O PT comemora o fato de ter voltado ao jogo. Mas o Bolsonaro, que surgiu do nada, ainda é ameaçador na corrida nesta reta decisiva.
Nonato Guedes