O publicitário baiano Duda Mendonça, um dos mais consagrados nomes do marketing político brasileiro, chegou a produzir, nos anos 2000, especiais para o Partido dos Trabalhadores na mídia, apresentando-o como paladino da ética e da moral, por combater visceralmente a corrupção. A ironia da história é que o PT acabou atolado em lamaçal de denúncias de envolvimento em casos de corrupção, que custaram as prisões de cabeças coroadas do partido como o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Duda Mendonça chegou a ser importunado pela Justiça e pela Polícia Federal por recebimento de propinas em escândalos como o do mensalão.
No seu livro-bíblia Casos & Coisas, histórias de vida e mistérios do marketing político revelados com impressionante riqueza de detalhes pelo maior especialista brasileiro no assunto, como é dito na capa da obra editada pela Globo, Duda chega a opinar que a escalada da roubalheira e da corrupção no Brasil é, no mínimo, vergonhosa e alarmante. A banalização do roubo é tamanha, chegou a tal ponto que o povo já começa a não ligar mais para nada. Pesquisas mostram que na opinião da maioria do povo brasileiro, todo político é ladrão. Uns roubam pouco, outros roubam muito mas todos roubam, teoriza Duda Mendonça.
Em virtude do sentimento de descrença, Duda, quando começou a criar para o PT uma campanha contra a corrupção, estava decidido a dar um choque. Uma porrada, mesmo, define o expert em marketing. Veio a ideia de fazer uma relação entre o símbolo mais repugnante do ladrão o rato e símbolo mais forte, a expressão mais imediata e verdadeira do coração da pátria a nossa bandeira. O que fiz foi acoplar esses dois símbolos, e o resultado dessa junção foi explosivo. Bateu forte. A imagem era dramática, intensa, e, ao mesmo tempo, diferente e de fácil compreensão. Dezenas de ratos roendo vorazmente a nossa bandeira, arrastando-a para o buraco. Nenhuma palavra, nenhum texto, nenhuma explicação. No final, apenas uma frase: Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil. E a assinatura: Xô, corrupção uma campanha do PT e do povo brasileiro, esclarece Duda Mendonça.
Conforme o publicitário baiano, as reações de pessoas que assistiram ao enredo da propaganda eram invariavelmente as mesmas. Todos faziam uma cara séria e, depois de algum silêncio, diziam: puta que o pariu… Contava a um e ouvia puta que o pariu, contava a outro e, novamente, puta que o pariu. Mudava apenas a ênfase, ora no puta, ora no que o pariu. Aliás, não foi outra a reação que tiveram diversas pessoas em várias pesquisas qualitativas que fiz, pré-testando o comercial já pronto, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais. Àquela altura, já não havia lugar para nenhuma dúvida. Eu estava plenamente convencido de que apesar da polêmica que certamente despertaria, o comercial acertava na mosca, atingia em cheio o seu objetivo, prossegue Duda, salientando que levou a peça, então, para apresentá-la a Lula, Mercadante, Zé Dirceu, Genoíno e outros. Mais uma vez, a mesma coisa. Ao acabar a exibição, todos bastante sérios, olhando uns para os outros. Até que, finalmente, alguém quebrou o silêncio:
– Puta que o pariu, é forte pra caramba!
Hoje, Duda já não se aventura mais a fazer campanhas desse tipo para o PT. Aquela campanha despertou instintos primitivos de companheiros do partido. Desde que que estourou o mensalão, corrupção no Brasil é associada ao Partido dos Trabalhadores. A agremiação perdeu seu discurso mais forte.
Nonato Guedes