Sem conseguir aprovar a reforma da Previdência e sem lograr condições para disputar uma reeleição pelo MDB, o presidente Michel Temer assiste ao desenrolar da contagem regressiva para deixar o Palácio do Planalto de forma melancólica e, também, sem a perspectiva de eleger o sucessor, ao contrário do que se deu com Itamar Franco, na década de 90, quando legou o Plano Real, de estabilização da economia, e contribuiu para a vitória do seu candidato, Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Itamar ascendeu à presidência com o impeachment de Fernando Collor de Mello em 92, por envolvimento com o esquema PC Farias. Michel Temer foi investido em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff (PT), sob acusação de pedaladas fiscais e outras irregularidades administrativas. Temer ainda tentou se articular para ser candidato mas desistiu ao constatar que é altíssima a rejeição ao seu governo.
Pelo MDB acabou se lançando o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que também ocupou posto relevante na área econômica no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que apesar da credibilidade e do reconhecimento quanto à sua competência, não consegue empolgar eleitores a ponto de fazê-los chamar o Meirelles, como insinua sua propaganda no rádio e na TV. A disputa presidencial deste ano está polarizada inevitavelmente entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL), da extrema-direita, e Fernando Haddad, PT, da esquerda, que substitui no páreo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba e condenado no âmbito da Operação Lava-Jato. Temer ainda sai do poder com a fama de golpista, que lhe é atribuída pelos petistas e pelos partidários de Dilma Rousseff desde que esta foi defenestrada do Palácio do Planalto em 2016. O ex-vice de Dilma acompanha, à distância, resultados de pesquisas eleitorais apontando Dilma como favorita para uma vaga de senadora por Minas Gerais, o implicará na sua reabilitação política no país.
Temer, mesmo criticado em seu partido, ávido por mais espaços, cedeu ministérios importantes como os da Saúde e das Cidades, como estratégia para fidelizar o PP e o PSDB. Manteve ministros que pouco ou nada acrescentaram, como LuislindaValois, de Direitos Humanos, aturou o desgaste de sustentar a obsessão do mandachuva do PTB, Roberto Jefferson, em nomear a filha Cristiane Brasil ministra do Trabalho, mesmo condenada por desrespeito à legislação trabalhista. O empenho de Temer, alegam seus interlocutores, tinha por objetivo continuar ditando o ritmo no Congresso para a aprovação da agenda de reformas que propunha como solução para o país. Acabou entrando na história pela intervenção federal decretada no Rio de Janeiro a pretexto de combater a escalada da violência.
Na campanha eleitoral em curso, Michel Temer só é mencionado quando candidatos resolvem criticar o governo. Nos Estados, candidatos emedebistas a governador evitam tocar no seu nome e preferem abordar conjunturas locais. No que diz respeito à pretensão de ser candidato a presidente, é certo que Temer chegou a pedir a ministros que listassem suas realizações em um ano e meio de governo. Valia tudo, de inaugurações de obras a anúncios de balanço positivo. A urgência na publicização dessas medidas tornou-se ociosa, uma vez que Temer não decolou em pesquisas de aprovação popular pelo contrário, amarga os mais elevados índices de impopularidade já acumulados por um governante na história do Brasil.
Nonato Guedes