Faltando pouco mais de dez dias para a eleição, apenas 17 partidos investiram pelo menos 30% dos recursos dos fundos partidário e eleitoral para candidatas a presidente, governadora, senadora, deputada federal e deputada estadual. Um mutirão de mulheres se mobilizou para desenvolver uma plataforma que divulgue as cerca de 8 mil candidaturas femininas em jogo este ano no país. Cerca de 700 voluntárias, de donas de casa a professoras universitárias, foram engajadas direta ou indiretamente na criação do site Appartidárias2.0, iniciativa do grupo Mulheres do Brasil e Luiza Labs, em parceria com a faculdade de direito de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, que reúne informações sobre as candidatas.
Lígia Pinto, líder do Comitê de Políticas Públicas do Brasil e responsável pelo projeto, denuncia que está havendo um boicote às candidatas mulheres por parte das cúpulas partidárias. Ela frisou: Estão criando instrumentos para maquiar melhor as candidaturas fictícias; põem o e-mail deles, criam uma página no Facebook e colocam uma foto ali, mas não há movimento, explicou. Lígia conta ainda que há depoimentos que colocam em xeque as informações repassadas pelas siglas sobre o financiamento de candidaturas. Segundo ela, a mudança no sistema de financiamento de campanhas, excluindo empresas como doadores, ampliou a desigualdade na distribuição de recursos, que agora são ainda mais escassos e por isso direcionados aos candidatos com chances reais na disputa, a maioria homens.
Contando com 53 deputadas federais e 13 senadoras, o Brasil ocupa atualmente a centésima quinquagésima segunda posição no ranking mundial de igualdade no Parlamento. As denúncias coletadas serão enviadas por meio de alertas aos partidos através de um chatbot no Twitter. A Procuradoria Eleitoral também deverá ser acionada. Passada a eleição, o intuito do grupo é acompanhar os projetos das candidatas eleitas e analisar a vinculação entre o financiamento recebido e o resultado nas urnas. Nas próximas eleições, a meta será investir na formação das candidatas, ajudando-as a formular propostas e fazer a própria comunicação, por meio das redes sociais. Dos 17 partidos que não chegaram aos 30% sem contabilizar vices e suplentes, PDT, PSDB e DEM estão entre os que menos investiram proporcionalmente em candidaturas de mulheres. No reverso da medalha, o PSTU, partido da candidata a presidente Vera Lúcia, foi a legenda que mais aplicou recursos em candidaturas femininas. Foram cerca de R$ 800 mil 74,2% do total. Em segundo lugar aparece o PMB, Partido da Mulher Brasileira. Criticado nos últimos anos por manter uma bancada majoritariamente masculina no Congresso Nacional, o partido aplicou 64,3% dos recursos em candidaturas de mulheres.
Mesmo com o avanço, a candidatura do partido que mais recebeu recursos foi a de um homem: Alisson Wandscheer, candidato a deputado estadual pelo Paraná. A Rede Sustentabilidade foi o terceiro partido que mais aplicou em candidaturas femininas cerca de R$ 7 milhões (58,8% do total). Contudo, do total destinado às mulheres, cerca de 80% foram para a candidatura presidencial de Marina Silva.
Nonato Guedes, com Folhapress