Levantado pelo juiz Sergio Moro o sigilo sobre trechos do acordo de colaboração do ex-ministro Antonio Palocci, nos quais ele afirma que as campanhas presidenciais do PT chegaram a custar até quatro vezes acima do valor oficialmente declarado (em troca da delação, o italianinho, como ele era chamado na cúpula do PT, terá redução de até 2/3 das penas aplicadas e a possibilidade de perdão judicial) houve reações de virulência no ataque a Palocci, que foi ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma. Ele disse ter sido um dos arrecadadores do PT, responsável por tratar de doações de grande porte junto a empresários, que em sua maioria eram de origem ilícita, resultante de negociação de contratos e percentuais com o governo. E acrescentou: Ninguém dá dinheiro para campanhas esperando relações triviais com o governo.
Dilma reagiu de forma injuriada, Lula falou em perseguição política. Numa entrevista que concedeu a jornalistas e pesquisadores, antes de ser preso, transformada no livro A Verdade Vencerá O Povo Sabe Por que Me Condenam, o ex-presidente Lula da Silva antecipou decepção com relação a Palocci, referindo-se ao seu depoimento prestado a Sergio Moro em setembro de 2017. Posteriormente, Palocci enviou carta à direção nacional do PT, desfiliando-se do partido. Textualmente, disse Lula: Eu tenho pena do Palocci. Porque eu vou ter raiva dele? Eu tenho uma tese antiga: delator só delata porque roubou. Quem delata é porque quer fazer negócio. Você veja o coitado do Léo (Léo Pinheiro, da Odebrecht). Há quantos anos ele está preso? Quase três anos. E qual é a grande teoria? Diga que o Lula sabia. Aí o Léo troca de advogado. Quando chega o depoimento em que o Léo disse que o Lula sabia, o Zanin pergunta: Por que o senhor mudou de posição?. E ele: Porque meu advogado pediu. Você acha que eu posso acreditar nisso?.
Nessa entrevista-livro, o ex-presidente Lula levanta a suspeita de que o depoimento e a carta de Palocci possam ter sido escritos por integrantes da Operação Lava Jato. Porque o Palocci falou em dinheiro de caixa dois, e eles insistiram em que fosse assumido como propina. Eles (os interrogadores) fazem coerção, desabafou Lula. O ex-presidente frisou, num momento do desabafo, que o Brasil deve a Palocci a conquista da confiança de que era possível fazer a economia dar certo. Eu acho que o Palocci teve um papel muito importante, pelo jeito dele de ser, pela tranquilidade com que ele tratava os assuntos, pela confiabilidade que ele passava. O Palocci era a única pessoa que eu conheci que dizia não e o pessoal falava: Que cara bom, me disse não, mas eu gostei. E o Palocci deixou o meu governo por uma bobagem dele. Lula mencionou, então, o caso de depósitos atribuídos a Palocci e feitos na conta do caseiro Francenildo Costa na Caixa Econômica Federal. Eu disse: Palocci, um ministro da Fazenda não pode ganhar de um caseiro. Ou você encontra uma explicação ou você tem que sair. Lula concluiu lamentando: Fui amigo da mãe do Palocci desde a fundação do PT. Não é pouca coisa essa relação. Então, eu lamento. Fico triste. Não fico com raiva, não; fico triste.
Sergio Moro justificou a decisão de tirar o sigilo do depoimento de Palocci afirmando que a publicidade não traria riscos à investigação, mas o advogado Cristiano Zanin Martins, defensor de Lula, afirmou que a maneira como Moro agiu, ao levantar o sigilo das informações, reforçava o caráter político dos processos relacionados ao ex-presidente. O PT ficou irado porque a divulgação de trechos das acusações de Palocci aconteceu na semana decisiva das eleições presidenciais, em que o candidato Fernando Haddad estacionou atrás de Jair Bolsonaro, e quando a ex-presidente Dilma Rousseff vinha flanando em céu de brigadeiro na disputa pelo Senado em Minas Gerais.
Nonato Guedes