A eleição presidencial que se realizará em primeiro turno no próximo domingo, dia sete, marcará o epílogo da disputa de 2014 em que houve a reeleição da chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB, hoje MDB), derrotando Aécio Neves (PSDB) por margem apertada no segundo turno e originando muita controvérsia nos meios políticos. Alvo de um processo de impeachment, sob acusação de pedaladas fiscais e outras irregularidades administrativas, Dilma foi afastada do cargo em maio de 2016 e Temer assumiu interinamente. Por três meses, a ex-presidente preparou sua defesa, mas a votação final no Senado, em 31 de agosto de 2016, resultou em 61 votos pelo impedimento e 20 contra, impossibilitando que ela permanecesse no cargo.
Dilma e líderes do PT como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passaram a desenvolver a narrativa de que o impeachment fora um golpe parlamentar, articulado por forças políticas conservadoras que nunca absorveram a hegemonia do Partido dos Trabalhadores. A situação complicou-se para o PT com a condenação do ex-presidente Lula a 12 anos e 1 mês de prisão, pena que ele cumpre na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Lula também foi obrigado a retirar sua candidatura a presidente da República por haver sido considerado inelegível, já que foi alcançado pelos tentáculos da Lei da Ficha Limpa, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Temer conclui um mandato a duras penas, detém altíssimo índice de rejeição popular e não teve condições de lançar-se candidato a presidente da República pelo MDB nem de participar da candidatura do próprio candidato do seu partido, Henrique Meirelles, que tem baixa pontuação nas pesquisas. Lula engendrou a candidatura do ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, para substituí-lo, e houve crescimento rápido da postulação devido à transferência de votos operada por Lula. Nesta reta finalíssima, porém, Jair Bolsonaro, candidato do PSL que ficou a maior parte do tempo hospitalizado em São Paulo após sofrer uma facada durante evento em Juiz de Fora, Minas Gerais, ressurge com ímpeto em pesquisas de opinião pública, abre margem expressiva sobre Haddad e já admite a hipótese de vencer a parada no primeiro turno. Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente a sofrer um impeachment, que se considerou vítima de misoginia no processo, tenta dar a volta por cima concorrendo ao Senado por Minas Gerais, com chances de vitória no pleito dedomingo. Aécio Neves, seu adversário em 2014, não quis enfrentar Dilma novamente e se lançou candidato a deputado federal também em Minas Gerais.
Dilma Rousseff iniciou o segundo mandato com uma queda de 10% do PIB, entre 2015 e 2016 e a missão de aplicar o ajuste fiscal, mantendo o delicado apoio parlamentar, especialmente com o PMDB, hoje MDB. O governo de Frente Popular também enfrentou a desilusão e a resistência dos trabalhadores frente ao início da aplicação da restrição de direitos, do desemprego e da precarização das condições sociais. O embate entre forças políticas e econômicas e as denúncias de corrupção desenfreada, especialmente em obras da Petrobras, tornaram o governo de Dilma inoperante. Em outubro de 2015, o Tribunal de Contas da União rejeitou as contas da administração referentes a 2014, por incongruências orçamentárias, num presumido encobrimento do déficit para fechar o ano. Também o TSE abriu processo investigatório sobre as linhas de financiamento da chapa Dilma-Temer. Essa situação de desgaste e de isolamento político culminou com o impedimento que afastou a presidente em agosto de 2016.
Nonato Guedes