Em outubro de 1987, o governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, já era especulado em setores da mídia como provável candidato a presidente da República em 1989, mas desconversava e dizia que seu candidato preferido era Mário Covas, do PSDB, ex-governador de São Paulo e então senador. Numa entrevista concedida naqueles mês e ano à revista Playboy, Collor lembrou que a especulação sobre seu nome para vice surgiu logo depois que ele lançou a candidatura de Covas no programa de Villas-Boas Correia na TV Manchete, logo depois da eleição do político paulista para líder do PMDB na Assembleia Nacional Constituinte.
Na época, Collor jurava estar focado em administrar Alagoas, de onde extraiu visibilidade ao declarar guerra aos marajás, funcionários públicos que percebiam elevados salários. Meu modo de fazer política não é o estereotipado, o que se possa chamar de padrão. Isso talvez não agrade muito a alguns políticos, adiantou ele à Playboy. Apesar de questionamento existente sobre suposta falta de densidade eleitoral de Covas, Collor o definia como um homem íntegro, com posições bem definidas, culto, um perfil que a gente enxerga. Salientava, ainda, que Covas tinha uma trajetória de correção e resistência dentro do PMDB, tanto assim que ganhou a escolha para líder na Constituinte numa situação adversa. E tem oito milhões de votos, completou.
O então governador de Alagoas, pressionado pelo repórter, mencionou outros nomes dentro do PMDB em condições de serem candidatos, como Ulysses Guimarães e Dilson Funaro. Fora do PMDB, relacionava Leonel Brizola com chances de ser candidato e descartava Paulo Maluf. Collor criticava o PMDB por não fazer o que prometeu e por dar aval ao maior arrocho salarial já visto no país. Queixava-se de que o PMDB encontrava-se em processo litigioso com o povo. E sobre o presidente José Sarney, opinava que ele estava frágil, sensível ao assédio dos políticos. Mas, no que me diz respeito, não vou por aí sair como um louco. Não posso servir de massa de manobra para movimentos de extrema-esquerda, pontuou.
Nesse período, Collor era filiado ao PMDB, que liberou filiados a se engajarem na campanha pelas eleições diretas-já para presidente da República. Ponderava, no entanto, ser necessária uma maturação, uma certa moderação do ponto de vista estratégico, até porque eu não desejo servir, nem tenho vocação, para ser crucificado como Cristo. Calculava que até a definição, pela Constituinte, da duração do mandato presidencial, Sarney iria fazer de tudo para garantir os cinco anos que desejava. Os governadores e os constituintes sabem qual é o calcanhar de aquiles do presidente. Eu fico isolado em Alagoas porque não faço parte desse contexto, afiançou. Collor julgava estar numa posição avançada em termos de propostas e de ações efetivas. Falta tocar na emoção do povo. É preciso tirá-lo dessa passividade para despertar o desejo de voltar às ruas, de carregar faixas, de ir a comícios e fazer passeatas, enfatizou. No final das contas, a dinâmica política acabou arrastando Collor para disputar a presidência da República .Ele venceu o pleito num segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Collor disputou pelo PRN, um partido sem muita expressão. Ulysses Guimarães concorreu pelo PMDB e Mário Covas pelo PSDB, mas ambos foram derrotados no primeiro turno.
Nonato Guedes