Na primeira eleição direta a presidente da República depois da ditadura militar instaurada em 1964, o candidato Fernando Collor de Mello, do PRN, concorreu no primeiro turno contra 21 candidatos que variavam de pesos-pesados como Aureliano Chaves, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Paulo Maluf e Leonel Brizola até nanicos caricatos como Armando Correa (PMB) e José Alcides Marronzinho, do PSP. Com 20.611.011 votos, Collor, que havia sido governador de Alagoas e fez fama como caçador de marajás, referência a servidores que usufruíam altos salários, foi o mais votado do primeiro turno, obtendo o equivalente a 28,5% do total de votantes. Como não atingiu os 50% mais um dos votos válidos, enfrentaria o segundo turno, tendo como adversário Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores. Vitorioso, Collor foi alvo de processo de impeachment em 1992, sob acusação de envolvimento com um esquema de corrupção chefiado pelo seu ex-tesoureiro de campanha Paulo César Cavalcante Farias, PC Farias. O vice-presidente Itamar Franca (PMDB-MG) foi investido como titular. Este ano Collor tentou disputar o Planalto e o governo de Alagoas, mas acabou ficando fora do páreo, limitando-se a cumprir o restante do mandato de senador.
Foram estes os candidatos na eleição presidencial de 89: Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva, Ulysses Guimarães, Paulo Maluf, Guilherme Afif Domingos, Mário Covas, Roberto Freire, Ronaldo Caiado, Affonso de Camargo Neto, Enéias Carneiro, Aureliano Chaves de Mendonça, José Alcides Marronzinho, Zamir José Teixeira, Fernando Gabeira, Celso Teixeira Brasil, Lívia Maria de Abreu, Paulo Gontijo, Antônio dos Santos Pedreira, Manoel de Oliveira Horta, Eudes de Oliveira Mattar e Armando Correa da Silva. Ao final da eleição, os votos destinados a Correa foram considerados nulos. O candidato do PMB havia cedido a candidatura a Sílvio Santos, que foi impugnada pelo TSE, tendo como vice o ex-senador paraibano Marcondes Gadelha, do PFL. A polarização política no segundo turno foi aguda e inevitável. Lula e Collor eram os mais expressivos ícones da oposição ao governo José Sarney, que assumira com a morte de Tancredo Neves em 85 na última eleição indireta para presidente. Collor aglutinou em torno de si a direita e os setores que deram suporte aos militares. Por sua vez, a esquerda e os setores que se destacaram na oposição ao regime militar ficaram com Lula.
Em livro sobre o fenômeno Collor, Carlos Melo afirma que o tom colérico e messiânico utilizado por Collor no primeiro turno, ganhou relevo ideológico mais claro no segundo turno. Para Collor, o candidato do PT, Lula da Silva, era um incendiário, subversivo, anacrônico e representante de um pensamento que desmoronava no resto do mundo. Meu programa não foi elaborado coma importação de ideias falidas, comentou Collor numa entrevista à Veja. A adesão dos conservadores a Collor teve Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) como um de seus mais significativos expoentes. Dois debates na televisão influenciaram decisivamente a disputa. Um dos primeiros políticos no Brasil a aderir a Fernando Collor foi o governador da Paraíba, Tarcísio Burity, já falecido.
Posteriormente, Burity decepcionou-se com Collor quando este decretou a liquidação extrajudicial do Paraiban (Banco do Estado) sem comunicação prévia ao governador. A ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência deu-se anos mais tarde, em 2002. Hoje, o ex-presidente e líder petista cumpre pena de prisão na Polícia Federal em Curitiba acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Da própria cela, contudo, montou um quartel-general para tentar eleger presidente da República o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Na reta finalíssima do segundo turno, Haddad começa a perder votos para Jair Bolsonaro, um capitão reformado do Exército, que se lançou candidato pelo PSL.
Nonato Guedes