Chegou a ser vertiginoso o processo de definhamento do MDB, ex-PMDB velho de guerra. No jogo rápido do funeral do partido na Paraíba, deu-se a derrota do senador José Maranhão ao governo no pleito de domingo, arrastando, por via colateral, o candidato a senador Roberto Paulino. No plano da bancada federal, o deputado Benjamin Maranhão, que voltara ao seio materno depois de uma migração por outras siglas, tombou prostrado em parte, possivelmente, pelo rolo compressor a que aludiu o senador José Maranhão, em parte pela insuficiência de votos, resultante do desgaste acumulado. Política não é só vida de folgado ou fase de bonança. Tem a temperança, mas também tem o infortúnio.
Na Assembleia Legislativa, sobrevive com passaporte para a próxima legislatura o último dos moicanos e o único deputado emedebista num plenário que já foi coalhado de peemedebistas e emedebistas por todos os cantos. O moicano é o deputado estadual Raniery Paulino, filho do ex-governador e candidato derrotado ao Senado, Roberto Paulino, que escapou da tempestade sabe-se lá como. Mas vivo está, com certeza. O que diz o senador Maranhão desse desmoronamento? Afora reclamar do tal rolo compressor, nada diz. O circo pega fogo nas barbas do velho piloto de avião, comandante de difíceis travessias políticas e administrativas e Maranhão fica dando milho aos pombos, lembrando que ainda tem quatro anos de mandato como senador.
Nada de reestruturar para valer o MDB, nada de passar o bastão para líderes jovens, nada de promover filiações, nada de abrir as fileiras da legenda para quem tem votos e está desconfortável em outros partidos. O MDB está como Minas, no dizer dos mineiros: está onde sempre esteve. Ou seja, fora do poder. E o que é pior: sem perspectiva de poder. É um triste fim, para lembrarmos o que sucedeu ao Policarpo Quaresma da literatura nativa. O canto do cisne, a ante-sala para o velório, sem a certeza da presença de vivalmas praticando o ritual de segurar a alça do caixão. Tudo muito fastidioso, muito melancólico. Um partido que foi grandioso quando cevado na resistência ao arbítrio, na autenticidade do combate à ditadura militar, caminha para a inanição, para o desaparecimento sem choro nem vela. Não há recall nem de boas lembranças, já que teve um histórico tumultuado no Estado, de tal sorte que quando PMDB, com Burity, por exemplo, chegou ao poder mas não ao governo, conforme definição antológica cunhada pelo senador Humberto Lucena, espécie de condestável da agremiação por muito tempo.
Houve um tempo em que o doutor Ulysses Guimarães, reserva moral do MDB e do PMDB, dizia: O nosso partido é como pão de ló: quanto mais batem, mais ele cresce. Óbvio que isto foi na época em que o partido era, realmente, igual a pão de ló. Quando havia quem enfrentasse cachorros e baionetas caladas com o timbre do governo na Bahia para pregar a democracia; quando havia quem denunciasse as torturas nos porões da ditadura. Ou como quem chamasse Ernesto Geisel de Idi Amim Dada, como fez o doutor Ulysses, numa de suas inspirações regadas ao poire, a aguardente de pêra que frequentava mesas do Piantella, o restaurante da oposição, em Brasília. Navegar é preciso, viver não é preciso, repetia o doutor Ulysses em instantes de diletantismo. Hoje, nem navegar o partido pode…
Nonato Guedes