A ironia da História fará com que o governador Ricardo Vieira Coutinho (PSB) e o senador Cássio Rodrigues da Cunha Lima (PSDB), que estiveram agora em outubro em lados opostos na campanha encerrada no primeiro turno, amanheçam o ano de 2019 sem mandatos políticos. Ricardo optou por permanecer no governo até o último dia de mandato, a 31 de dezembro, e já anunciou que voltará às atividades na Universidade Federal. Cássio concluirá um mandato conquistado com hum milhão de votos em 2010, mas que não foi renovado agora e antecipou vagamente que continuará trabalhando pela Paraíba em outras tribunas. Chegou a dizer que não precisa de mandatos para fazer o bem.
Na prática, Ricardo e Cássio cumprirão uma espécie de ano sabático em 2019, recarregando energias para novos embates políticos que os aguardam. Não é segredo para ninguém que Ricardo é pule de dez no seu esquema para concorrer em 2020 à prefeitura de João Pessoa, que ele exerceu por duas vezes, tendo sido eleito em 2004 e 2008. Natural de João Pessoa, Coutinho começou sua militância política no ambiente universitário, evoluindo, depois, para a política-partidária. Foi quando se tornou vereador e deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores. Rompeu com o PT para ter espaço de concorrer à prefeitura da Capital, daí ingressando no PSB, no qual se mantém. Cássio começou como deputado federal, passou pela prefeitura de Campina Grande por três vezes, foi eleito governador duas vezes e até dezembro cumprirá o único mandato de senador que logrou empalmar. É pule de dez no seu agrupamento político (PSDB) para ser o candidato a prefeito de Campina Grande, mais uma vez, em 2020.
Dos dois, Cássio é mais versado no exílio político do que Ricardo. Em fevereiro de 2009, a caminho de concluir seu mandato como governador do Estado, ele foi cassado pelo TSE junto com o vice José Lacerda Neto, num processo que remontava à disputa de 2006 na qual derrotara José Maranhão (PMDB) e em que constavam denúncias de conduta vedada e suposta improbidade administrativa. Cunha Lima sempre alegou que foi um dos maiores erros judiciários da história do país com a perda do mandato de governador, ele foi substituído pelo segundo colocado, José Maranhão, cujo vice era Luciano Cartaxo, então filiado ao PT, hoje prefeito reeleito de João Pessoa pelo PV. Cássio foi purgar o exílio nos Estados Unidos, dando a justificativa de que iria aprender e aprimorar inglês. De lá, manteve-se permanentemente informado sobre a realidade política da Paraíba e, ao voltar, surpreendeu a todos aliando-se a Ricardo Coutinho na primeira eleição deste ao governo. Cássio e Efraim Morais, do DEM, foram eleitos senadores na chapa. Em pouco tempo, Cunha Lima e Vieira Coutinho romperam, de tal sorte que em 2014 enfrentaram-se na corrida pelo Palácio da Redenção. Era a reeleição de Ricardo, que no final das contas levou vantagem e agora se prepara para passar o bastão ao seu ungido nas urnas deste ano, o neófito político João Azevêdo, vitorioso no primeiro turno.
Por estratégia política, nem Ricardo Coutinho nem Cássio Cunha Lima assumem pretensão de voltar a disputar prefeituras das duas maiores cidades da Paraíba, com as quais são profundamente identificados, além de conhecer cada esquina e cada bairro. Mas o cenário projetado por analistas políticos converge para essa perspectiva a da oficialização das duas candidaturas, na Capital e em Campina, e com possibilidades de vitória. Ficará faltando definir a posição do clã Cartaxo depois que Luciano concluir seu segundo mandato em João Pessoa e, provavelmente, devolver o cargo a Ricardo Coutinho, o que configuraria outra ironia da História.
Nonato Guedes