Uma das vozes altivas da bancada federal paraibana na Assembleia Nacional Constituinte que produziu a Constituição-Cidadã de 1988, cujos 30 anos serão evocados em sessão especial da Assembleia Legislativa este mês, foi a da deputada Lúcia Braga, mulher do ex-governador Wilson Braga, na época filiada ao PFL. Indicada pela Sub-comissão de Direitos e Garantias Individuais, Lúcia votou em parceria com um adversário, o deputado Antônio Mariz, do PMDB, que presidia a referida Sub-comissão. Além do mais, bateu de frente, corajosamente, com os expoentes do chamado Centrão, o agrupamento conservador que atuou na Constituinte, e cerrou fileiras com parlamentares de esquerda, assumindo posições progressistas.
– Votei de acordo com a minha consciência e com os interesses do povo relatou Lúcia, hoje sem mandato, no livro Tempo de Viver, Tempo de Contar. E acrescentou: Como eu, algumas companheiras na Assembleia Nacional Constituinte romperam grilhões, rebelaram-se contra posições políticas tradicionais, o autoritarismo dos maridos, para obedecer aos ditames de sua consciência. Foi um período igualmente difícil para Lúcia ela teve que se desdobrar na assistência à filha Patrícia, que enfrentou graves sequelas decorrentes de acidente automobilístico na cidade de Alfenas, Minas Gerais, onde estudava.
No boletim do Diap, o Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar, que monitorou a atuação dos constituintes, Lúcia Braga obteve média final 4,75, o que foi atribuído às ausências em votações importantes quando estava cuidando da filha, que acabou falecendo, mais tarde, na Paraíba. O Diap identificou as posições de Lúcia como nacionalistas, lembrando que ela disse sim á proteção da empresa nacional e votou a favor da nacionalização do subsolo. Também votou favoravelmente à participação popular no processo legislativo e disse sim ao direito de voto aos 16 anos.
Presidencialista, votou contra os cinco anos de mandato para José Sarney e a favor da reforma agrária. Declarava-se uma parlamentar de centro-esquerda.
Lutei pelas causas nas quais depositava minhas crenças. Defendi a aposentadoria da mulher aos 25 anos, pela sua dupla e, às vezes, tripla carga de trabalho mulher-mãe, dona de casa e trabalhando fora, algumas assumindo as funções de chefe de família, quando abandonada pelo marido. Defendi o direito de moradia digna para as populações de baixa renda como obrigação dos governantes. Entre as minhas emendas à Constituição está a licença gestante de cento e vinte dias e defendi o planejamento familiar como livre opção do casal, sem a coerção do Estado. O PFL, insatisfeito com minha independência, me deixou à parte e algumas vezes trabalhou para derrubar as minhas emendas, como no caso da que se referia à habitação popular, relatou Lúcia no livro.
A deputada paraibana integrou-se a uma bancada de que faziam parte mulheres como Rita Camata, Benedita da Silva, Cristina Tavares, Abigail Feitosa, Raquel Capiberibe, Irma Passoni, Beth Azize, Ana Maria Rattes, Sandra Cavalcanti, Vilma Maia, Maria de Lourdes Abadia, todas de atuação significativa, que atuavam no parlamento livremente, dando um testemunho de força da mulher na Assembleia Nacional Constituinte, adiantou Lúcia. Ao ser voto vencido em algumas propostas, Lúcia ouviu palavras de conforto de Benedita da Silva, que lhe disse: Nós perdemos porque este Congresso é dos homens, mas você está de parabéns. Tanto Lúcia como o marido Wilson Braga dão sinais de que abandonaram definitivamente a disputa de cargos políticos ele ainda concluiu um último mandato como deputado estadual, repetindo trajetória deflagrada a partir de 1954 no cenário paraibano.
Nonato Guedes