Por ocasião da primeira eleição direta, pós-ditadura militar, a governos estaduais, em 1982, na Paraíba o senador Humberto Lucena, que presidia o PMDB, acusou o então governador Tarcísio Burity, que fora escolhido por via indireta, de colocar irresponsavelmente toda a máquina eleitoral a serviço do PDS, transformando a política paraibana num balcão de negócios, sobre o qual se colocam contratos e nomeações de centenas ou até milhares de funcionários. Humberto ecoou a denúncia na tribuna do Senado e em entrevistas à imprensa. O PDS tinha como candidato o deputado federal Wilson Leite Braga, que venceu por 151 mil votos de vantagem o candidato do PMDB, Antônio Mariz, derrotando, também, Derly Pereira, primeiro candidato lançado pelo PT a uma disputa majoritária na Paraíba.
Depois de revelar que havia repartições onde muitas pessoas trabalhavam em pé, por falta de espaço, o senador lembrou que tudo isso ocorria num Estado onde a situação financeira estava deteriorada e onde o que se arrecadava mal dava para pagar ao funcionalismo público. A polêmica levantada por Lucena foi um revide às insinuações de Burity de que o parlamentar estaria obstruindo, no Senado, a votação de empréstimos de interesse da Paraíba. Mas o senador voltou à carga dizendo que a acusação era demagógica e leviana, pois não constava nenhum pedido de empréstimo de interesse da Paraíba na ordem do dia do Senado. Humberto frisou, ainda, que Burity não conseguia se conter na ânsia de satisfazer sua vontade pessoal e, para tanto, lançara mão de vultosa soma de recursos para promoção em publicações de circulação nacional como a revista Veja. Mais tarde, Burity rompeu com o braguismo e com o PDS e aliou-se a Humberto e ao PMDB, obtendo aval para concorrer ao governo pelo voto em 86. Venceu por 296 mil votos de maioria sobre Marcondes Gadelha, do PFL.
Em 82, Burity candidatou-se a deputado federal, logrando êxito em virtude da estrutura da máquina e da repercussão de ações administrativas favorecendo camadas mais carentes da população. Marcondes Gadelha, eleito senador em 82, justificara, em entrevista, sua migração para o PDS-PFL, dizendo que o PMDB, onde militava, havia se tornado um partido híbrido e estéril, que já não sensibilizava parcelas da opinião pública. O país não é mais aquele país maniqueísta, de dez anos atrás, quando enfrentávamos uma ditadura”, alegou Marcondes para defender sua controversa opção. Ele informou que havia tentado ingressar nas fileiras do PT, mas fora vetado por um grupo trotskista e minoritário que o considerava burguês, esquecido da sua luta pela soltura de presos políticos recolhidos à ilha de Itamaracá, Pernambuco. Diante de cenários assim, eu não poderia ficar hesitando, dançando aquela sarabanda patética que o Jânio Quadros dançou. Se o PT não me aceitava e o PMDB, a que era filiado, entregara-se de corpo e alma a um partido furta-cor referência ao PP de Tancredo Neves, Magalhães Pinto e Antônio Mariz na Paraíba- restava-me ingressar no PDS e o faço conscientemente porque conheço o seu programa e se nós implementarmos o que nele está escrito, podemos transformar esse partido e esse país numa verdadeira social-democracia. Isso será um grande passo, uma grande etapa no rumo das conquistas populares, arrematou.
Marcondes frisou, ainda, que a trincheira pela redemocratização poderia ser fincada em qualquer agremiação. Acho que podemos fazer isso em qualquer lado. Os meus princípios estão dentro de mim e eu os levo para onde for. Estou mudando apenas de campo, não estou mudando minhas posições políticas, salientou. A eleição direta de 82 marcou o batismo de fogo de Burity na política, do ponto de vista da disputa de mandatos. A campanha registrou momentos acirrados e enfrentamentos em diferentes localidades do Estado, mas a radicalização foi considerada dentro dos limites razoáveis, como reflexo das profundas mudanças operadas na conjuntura nacional e estadual. Em 1986, com Burity eleito ao governo em dobradinha com Humberto Lucena, Wilson Braga tentou ser ungido senador, mas foi derrotado por um estreante em política, o empresário Raimundo Lira. A derrota teve sérias consequências na carreira política de Braga. Ele deixou a vida pública sem ter inscrito no seu currículo o cargo de senador.
Nonato Guedes