Não está sendo fácil para o candidato do PT a presidente da República, Fernando Haddad, encaixar-se no figurino idealizado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o combate contra Jair Bolsonaro, do PSL, seu adversário no segundo turno a ser travado domingo próximo. Candidato in pectoris do ex-presidente Lula, a quem costuma consultar na cela da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, Haddad paga por ter cão e por não ter cão dentro do PT, ora acusado de radicalismo inconveniente, ora criticado por falta de agressividade no discurso para desconstruir Bolsonaro.
Ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Haddad tem outro problema concreto que afeta sua rotina de candidato. É chamado a fazer o papel de Super-Homem, na semana decisiva da eleição presidencial, alternando-se entre São Paulo e estados do Nordeste para neutralizar o rival nos bolsões onde ele dissemina a retórica do medo contra o PT. Haddad foi escolhido do bolso do colete por Lula, por ser supostamente um político amestrado, cumpridor de ordens, ou, nas palavras de Bolsonaro, pau mandado de Lula. Sua indicação frustrou e desagradou figuras proeminentes do PT nacional como a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, presidente do partido, o senador pelo Rio Lindbergh Farias e o ex-ministro e governador da Bahia Jacques Vágner, que chegou a ser apontado como o nome nordestino do PT para se beneficiar com o espólio de votos de Lula na região.
Haddad tem suas qualidades pessoais. “Veja” lembrou que ele é apontado como um político moderado o mais tucano dos petistas, segundo o bordão. Formou-se em direito pela Universidade de São Paulo, onde fez mestrado em economia e doutorado em filosofia. Teve a experiência de comandar a maior cidade do país da qual saiu, no entanto, com popularidade abaixo de 15%,o pior índice em uma década e meio. A sua derrota na campanha para reeleição à prefeitura de São Paulo foi emblemática da sua carência de liderança política, conforme alguns analistas. Indicado candidato a presidente da República, ficou estigmatizado como preposto de um presidiário, o ex-presidente Lula, a quem visitou com mais frequência para receber instruções sobre como proceder no curso de uma campanha atípica e radicalizada.
O candidato do PT não se envolveu em casos específicos do lodaçal que vitimou cabeças coroadas do partido, mas, como seus colegas de sigla, tem relutado em fazer mea culpa e já tornou público que Lula está preso injustamente. Chegou a acenar, para depois recuar, em face da repercussão negativa, com a concessão de um indulto a Lula na hipótese de vir a ser eleito presidente, dando a entender que estava disposto a passar por cima da Justiça para atender ao seu chefe. Ultimamente, como parte da estratégia errática que tem adotado, afastou-se de Lula, pelo menos publicamente, passou a dizer que quem errou deve pagar por seus erros, sem, no entanto, aprofundar como isto seria feito. Já disse que Zé Dirceu, que continua a ser eminência parda do PT, não terá nenhum papel num virtual governo seu. Sabe-se que Lula aconselhou Haddad a manter as portas abertas para alianças como MDB e o Centrão, velhos parceiros do PT em esquemas de corrupção. Para Veja, de sua cela em Curitiba, Lula continua dando as cartas. E uma virtual vitória de Haddad será, na verdade, a vitória do ex-presidente presidiário, que controla o PT com mão de ferro.
Nonato Guedes