A crise enfrentada a nível nacional pelo PSDB, que agoniza entre uma reformulação total que implicaria sua adesão ao governo Bolsonaro e a manutenção do status quo que levou o partido ao fracasso, terá reflexos na Paraíba com a debandada de expoentes ilustres da legenda, a exemplo do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, cuja migração para outro partido é cada vez mais comentada. Romero foi afetado indiretamente com a derrota do senador Cássio Cunha Lima, que pleiteava a reeleição e se julgou vítima do que chamou de tsunami político verificado em escala nacional no último pleito. A mulher de Romero, Micheline, foi candidata a vice de Lucélio Cartaxo (PV), derrotado ao governo do Estado por João Azevêdo (PSB). Mas o prefeito campinense, no contraponto, ficou em vantagem com a vitória de Bolsonaro, com quem esteve na campanha e a quem declarou apoio no segundo turno.
O tucanato paraibano terá de volta à Câmara Federal o ex-deputado Ruy Carneiro, presidente do diretório regional do partido, que deverá passar o comando para Cássio, sem mandato, com a desafiadora missão de recompor o PSDB. O ex-senador Cícero Lucena, que chegou a presidir o partido, já deixou claro que não tem mais nenhum interesse em atuar na política partidária. Além de Ruy, o deputado federal Pedro Cunha Lima, filho de Cássio, estará na Câmara na próxima legislatura ele foi reeleito, mas com uma votação inferior à estimada. O ex-prefeito de uma importante cidade paraibana, que se filiou ao PSDB por afinidade com Cássio, deu sinais nos últimos dias de que vai procurar outro partido para chamar de seu.
A nível nacional, segundo uma matéria da revista Veja, a estratégia da turma ligada ao governador eleito de São Paulo, João Doria, é transformar o PSDB na principal legenda da base aliada de Bolsonaro. Ainda que encolhida (perdeu 25 cadeiras em 2018), a bancada tucana teria aparato técnico para relatar as reformas econômicas no Congresso, segundo avaliam aliados de Doria, comparando que essa qualidade falta ao PSL de Bolsonaro e seus agregados, em sua maioria novatos sem experiência em gestão pública ou deputados que jamais tiveram protagonismo legislativo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a advertir, através do Twitter, que condena qualquer adesismo oportunista, o que foi interpretado como uma tentativa de conter a movimentação de Doria. Por sua vez, Geraldo Alckmin, agora desempregado, também usou as redes para se posicionar no partido, condenando os ataques de Bolsonaro à imprensa. Começou mal. A defesa da liberdade ficou no discurso de ontem, escreveu. Alckmin se reuniu com candidatos derrotados ao governo que integram a direção do partido com o intuito de tentar garantir apoio da maioria do diretório nacional para se segurar no cargo até 2019. Mas o PSDB já está estigmatizado como um partido que retrocedeu para virar linha auxiliar de um governo da direita radical, contradizendo a inspiração do nascedouro, sob o signo da social-democracia europeia.
Nonato Guedes