Ainda que pareça curial, elementar, convém ressaltar que a sintonia fina existente entre o governador Ricardo Coutinho, que está concluindo oito anos de mandato, e o sucessor João Azevêdo, tem sido até agora a chave do êxito dos projetos administrativos e de poder do agrupamento que se convencionou chamar de girassol. Entre os dois há uma simbiose latente quanto ao diagnóstico dos problemas da Paraíba e à terapêutica para equacioná-los de forma gradativa. Não significa, tal sintonia, que os dois pensem o tempo todo da mesma forma e concordem em gênero, número e grau. A sintonia é temperada pela divergência de concepção sobre a forma de gerir o contencioso embutido nas pendências naturalmente correntes e nas formulações de curto e médio prazo com o fito de dotar a Paraíba do emblema do avanço, filosofia comum a João e a Ricardo.
É como se divergissem no varejo, mas convergissem no geral. João foi partícipe-executor, com seus conhecimentos técnicos qualificados, de iniciativas de grande alcance idealizadas por Ricardo para perseguir o fomento de um modelo diferenciado de gestão, sem deixar de levar em conta as peculiaridades do nosso Estado, situado entre os mais carentes da região Nordeste. Foi esse modelo que possibilitou o equilíbrio das finanças, aqui e acolá turvado pelos sacolejos da conjuntura nacional.
Ricardo sempre se orgulhou de ter procurado cumprir à risca o dever de casa, dando a impressão de ter encarado realmente a administração com espírito republicano. Ninguém ignora que o gestor que se despede exterminou ilhas ou focos de compadrio, de privilégios entre grupos políticos partidários da tese de que o poder é uma partilha entre amigos e não uma política socialista de distribuição de benefícios.
Ricardo, certamente, contrariou interesses específicos de segmentos que julgavam merecer ser contemplados mais do que o foram, especialmente do ponto de vista dos salários, que mexem com a cabeça e o bolso das pessoas. São aqueles grupos egoístas que querem mais, pouco se importando com a desigualdade no topo da pirâmide social. É uma elite que no país chamado Belíndia força a barra para se assenhorear de privilégios, de mordomias, em detrimento dos menos favorecidos. Remanescem de épocas em que podia-se ignorar a voz rouca das ruas, o grito dos sem-nada, absolutamente protegidos pela imunidade conferida por poderosos de plantão. Essa página virou há muito tempo, e não somente na Paraíba. A prova cabal disso tem sido a reprovação, no teste das urnas, de políticos e gestores que não corresponderam a expectativas, que não cumpriram promessas, que não se esforçaram para fazer diferente e partilhar o pão com um contingente maior de habitantes da Paraíba.
A eleição de João Azevêdo, um técnico sem currículo político, foi, de certa forma, plebiscitária, tanto em relação ao julgamento dos oito anos de governo de Ricardo Coutinho como diante das perspectivas favoráveis ou desfavoráveis, que emanassem do candidato ungido por Ricardo para sucedê-lo. A oposição, emaranhada em chapas familiares ou domésticas, perdeu a noção da História e o elo com o sentimento das ruas, amargando uma derrota acachapante desde o primeiro turno, como a sinalizar que não havia perda de tempo, pelo contrário havia urgência na escalação dos protagonistas de uma nova etapa da vida administrativa da Paraíba. Azevêdo tem tudo para fazer, e esse é o estado de ânimo que encoraja paraibanos a dar-lhe um crédito de confiança.
Nonato Guedes