É totalmente distinta a trajetória entre o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, e o governador de São Paulo, Márcio França, mas há um ponto que os aproxima além da circunstância de serem filiados ao Partido Socialista Brasileiro, PSB: deverão candidatar-se a prefeitos das respectivas Capitais dos Estados que governam, em 2020. No caso de Ricardo, a prefeitura de João Pessoa lhe é bastante familiar foi ela que o catapultou ao governo do Estado em 2010 e, depois, na reeleição, em 2014. Coutinho foi eleito duas vezes prefeito de João Pessoa, em 2004 e 2008, derrotando candidatos do PSDB como Ruy Carneiro e, na época, João Gonçalves, e atrelando partidos como o então PMDB ao seu esquema mesmo quando formou chapa puro-sangue em 2008, tendo como vice o arquiteto Luciano Agra, já falecido.
França, diferentemente de Ricardo, ascendeu à titularidade do governo de São Paulo em 2018 dada a sua condição de vice-governador de Geraldo Alckmin, do PSDB, que se desincompatibilizou para concorrer novamente à presidência da República, experimentando o pior desempenho de toda a sua movimentada carreira política. Efetivado como titular no Palácio dos Bandeirantes, Márcio França resolveu testar sua popularidade e candidatou-se à reeleição. Teve votação expressiva mas acabou sendo batido nas urnas por João Doria, que despontou como novidade ao se eleger prefeito de São Paulo sem ter precedente de biografia política. Foi um outsider, acolhido pelo eleitorado sequioso por mudança, fosse lá como fosse. Doria não esquentou a cadeira na prefeitura e já é governador eleito. Pode credenciar-se a trunfos maiores, no plano nacional, ou não. Política, para usar uma linguagem corrente, ainda é caixinha de surpresas.
Na disputa deste ano, o governador da Paraíba tomou a decisão de permanecer no cargo até o fim, desdenhando os apelos para que concorresse a uma vaga de senador, a pretexto de que seria plenamente favorito. Sabe-se que, no íntimo, Coutinho não morre de amores pelo Senado e por isso não se esforçou para obter uma indicação que seria pacífica. Além do mais, havia a motivação muito forte de se empenhar para eleger seu sucessor no governo da Paraíba um técnico de habilidade e competência indiscutível mas sem nenhuma experiência política João Azevêdo, que era secretário de Infraestrutura do Estado. O resultado das urnas para Ricardo foi melhor do que se esperava João Azevêdo ganhou em primeiro turno, derrotando uma frente de oposição que de um lado juntou Cássio Cunha Lima e Romero Rodrigues a Luciano e Lucélio Cartaxo, e, de outro, teve como candidato solitário o senador José Maranhão, do MDB, já desgastado pelas consecutivas incursões pelo território do governo estadual.
Ricardo não apenas elegeu João Azevêdo, mas contribuiu para que o PSB sob sua direção elegesse o primeiro deputado federal na Paraíba enquanto na Assembleia Legislativa a bancada socialista ampliasse consideravelmente, em detrimento da bancada do Partido dos Trabalhadores, que praticamente sumirá na próxima legislatura. Enfim, o PSB de Ricardo abocanhou uma vaga ao Senado, confiada ao deputado federal Veneziano Vital do Rêgo, que topou deixar o MDB para arriscar-se no bloco ricardista. À vitória de Veneziano correspondeu a derrota do senador Cássio Cunha Lima, que largou como favorito e que acabou em quarto lugar. Como se vê, uma trajetória amplamente coroada a de Ricardo. Já a de França, em São Paulo, ainda está por adicionar êxitos. E ele vai tentar o desafio partindo para disputar um cargo que Ricardo já ocupou na Paraíba a prefeitura da Capital. O futuro dirá o que os espera.
Nonato Guedes