Além da doutora Lígia Feliciano (PDT), atual vice-governadora na gestão Ricardo Coutinho (PSB), que continuará no cargo a partir de janeiro como vice do governador eleito, o também socialista João Azevêdo, na história política recente da Paraíba apenas o ex-deputado Clóvis Bezerra Cavalcanti, falecido em 2003 em João Pessoa e sepultado em Bananeiras, sua terra natal, logrou ser vice de dois governadores distintos Ernani Sátyro, a partir de 1975, e Tarcísio Burity, empossado em 1979. Tanto Ernani como Burity (numa primeira fase) foram governadores por via indireta, indicados pelo regime militar, sendo apelidados de biônicos pelos opositores e pela mídia. Em 1986, Burity foi eleito governador pelo voto, concorrendo pelo PMDB e derrotando nas urnas o então senador Marcondes Gadelha. O vice de Burity, Raymundo Asfora, não chegou a tomar posse: foi encontrado morto na granja Uirapuru, nos arredores de Campina Grande, no dia seis de março de 1987, faltando nove dias para a instalação do segundo governo de Tarcísio Burity.
De perfil conciliador e posições conservadoras, Clóvis Bezerra Cavalcanti ingressou na política filiando-se à UDN e, por coerência, manteve-se nos partidos sucedâneos como Arena e PDS. Em 1946 foi prefeito de Bananeiras nomeado pelo interventor, desembargador Severino Montenegro. Em 47, elegeu-se deputado estadual, mandato que repetiu por seis vezes. Presidiu a Assembleia Legislativa em inúmeras legislaturas, inclusive, no período de cassação de mandatos de deputados pela própria Casa, com a eclosão do movimento militar de 1964. Identificou-se tanto com o poder que mereceu esta observação do historiador Humberto Mello: Ele é a cara da Assembleia. Foi secretário de Saúde no governo Ivan Bichara Sobreira e por várias vezes exerceu eventualmente o governo, na condição de presidente da ALPB, uma das quais por ocasião da perda do mandato de Severino Cabral, na gestão de João Agripino Filho. Em meados de 1982, com a saída de Burity do governo para disputar um mandato na Câmara Federal, Clóvis Bezerra tornou-se efetivamente governador do Estado, mantendo uma postura equilibrada e discreta e procurando dar continuidade a obras que estavam empenhadas ou planejadas. Passou o cargo ao primeiro governador eleito após o regime de exceção, Wilson Leite Braga.
Formado em Medicina pela Universidade da Bahia, Clóvis foi personagem de uma crise institucional por ocasião da eleição para a Mesa do Legislativo paraibano em fevereiro de 1963. Com 20 votos contra 19 de Clóvis, o trabalhista José Maranhão não conseguiu a maioria absoluta (40 deputados)o que forçou a efetivação de novo escrutínio. Mantidos os resultados, o bloco PSD-PTB-PSB proclamou-se vitorioso, mas os situacionistas, baseados no regimento, realizaram novo pleito até conseguir 20 votos, o que assegurou a eleição de Clóvis, mais idoso que o concorrente. O historiador José Octávio de Arruda Mello atribui ao prestígio de Clóvis em 1978 a apertada vitória obtida por Tarcísio Burity na convenção arenista de18 de maio. Os seus atributos como seriedade, firmeza e espírito partidário levaram Burity a convertê-lo em companheiro de chapa, preterindo Waldir dos Santos Lima, que se bandeou para a dissidência marizista. Ao assumir no lugar de Burity, Clóvis recomendou parcimônia nos gastos públicos, muito cuidado na efetivação de despesas e realização de concorrências públicas, além de pedir colaboração do funcionalismo público para melhor rendimento administrativo. Lutou pela permanência do programa emergencial contra a seca. Como presidente da Assembleia, por ocasião da eclosão do movimento militar de 64, declarou a Casa em vigília, emprestou apoio incondicional à chamada revolução e legitimou sessões que cassaram mandatos de parlamentares. Um projeto de resolução do deputado Joacil de Brito Pereira cassava os mandatos dos deputados Assis Lemos e Langstein de Almeida e dos suplentes Figueiredo Agra e Agassiz Almeida. Clóvis expediu telegramas a autoridades competentes congratulando-se com o desfecho da quartelada, sem derramamento de sangue. Justificou que a Assembleia da Paraíba postava-se ao lado da legalidade e na defesa das tradições referentes à religião, família e propriedade. Foi visitado pelo coronel Ednardo DAvila Mello, comandante do Regimento de Infantaria em João Pessoa, que elogiou o comportamento da Assembleia da Paraíba. Nascido em 09 de julho de 1911, Clóvis teve um filho, Afrânio Bezerra, que seguiu seus passos e elegeu-se deputado estadual, estando hoje afastado da política e dedicado a atividades empresariais no ramo de combustíveis na Paraíba.
Nonato Guedes