O governador Ricardo Coutinho vive a azáfama de concluir um ciclo administrativo de oito anos na Paraíba um ciclo inegavelmente proativo, com a marca do gestor cravada em obras diferentes ou em símbolos como o de tirar do isolamento a última cidade da Paraíba confinada em comunicação por falta do asfalto, da rodovia, que aproxima os passos das populações. Esse ritmo me faz lembrar o fim do governo Ernani Sátyro, na década de 70. Indicado por via indireta, compondo a galeria dos chamados biônicos, Ernani procurou ser pródigo em realizações e é fato que avançou e fez a Paraíba avançar muito, abrindo clareiras, entregando investimentos traduzidos em obras.
Numa das suas crônicas dominicais em A União, em que misturava literatice com prestação de contas, o autor de O Quadro Negro ria-se ao enumerar adutoras, colégios, eletrificação, infraestrutura, teatros. E, como ele dizia, para quem quiser encher a vista, apontamos o Centro Administrativo: quatro edifícios de sete andares, abrangendo todas as secretarias do Estado, com possibilidade de construção de mais um edifício e, ainda, um Palácio dos Despachos e um auditório. Depois de narrar o inventário das obras rigorosamente conferidas, contadas, pagas e inauguradas, como ele dizia, ironizando adversários, Sátyro provocava: Agora, meus amigos, mãos à obra. Vamos fazer inaugurações. Vamos brincar de inaugurar. Quem quiser que chore, o pranto é livre. Mas Grande é a Vida. Era assim, em meio a devaneios poéticos, que o homem público Ernani Sátyro cumpria o que houvera prometido ao povo paraibano.
No discurso de posse, ele foi enfático: Erros, muitos erros, certamente serão cometidos. Os meus e os de meus auxiliares. Os meus e os dos senhores legisladores. Os nossos, e os dos juízes. Os dos juízes e os do povo. Sim, os do povo também. Todos nós erraremos, por isso que somos humanos. Mas a missão para que estamos convocados é a de acertar mais, muito mais, cada vez mais, é a de sempre acertar mais do que errar. Não somente por disposição de ordem constitucional como pela minha própria disposição, pela minha formação, pelo meu temperamento, quero que sejam harmônicas e independentes as relações entre os três poderes do Estado.
Sátyro chegou a fazer um mea-culpa sobre problemas ocorridos no cronograma de conclusão de obras públicas. Está lá, numa das suas crônicas: Muito atraso houve em todas essas obras, não só na Paraíba como no Brasil inteiro, por uma série de motivos, já suficientemente noticiados: inflação importada e, portanto, encarecimento de material, chuvas, falência ou concordata de firmas. O governo do Estado, disso temos convicção, não teve culpa de nada, haja vista a conclusão do Anel do Brejo. Conseguimos o dinheiro, fizemos o contrato, iniciamos a obra. Lá veio a queda da firma. Feitas novas concorrências, não apareceram os empreiteiros. Eis o doloroso impasse.
Governar é tudo isso: é enfrentar problemas, conviver com adversidades, ter que interromper o que estava programado quando razões superiores impõem essas alterações bruscas. O melhor da rotina, para citarmos ainda o ministro Ernani Sátyro, era brincar de inaugurar afinal, Grande é a Vida. Ernani tinha lá suas idiossincrasias adorava comparar seu governo com o de João Agripino, com quem tinha diferenças. Mas se realizava mesmo na arte de fazer. Há quem ainda lembre o brilho nos seus olhos ao inaugurar o novo prédio da Assembleia, justificando: Foi daqui que eu parti para outros voos. De minha parte, vi-o deslumbrado, correndo feito criança, quando se deu a cheia no açude de Engenheiro Avidos, região de Cajazeiras. Temos diante dos nossos olhos uma lâmina poética!, disse, extasiado, eu segurando o microfone para documentar aquele instante. Governar é fazer o bem. Ricardo Coutinho está concluindo a sua parte. Virá João Azevêdo, com uma nova Era, na qual só quem ganha é o povo paraibano.
Nonato Guedes