Eleito em 2010, mas somente empossado em novembro de 2011 devido a pendências judiciais e regimentais derivadas de interpretação da vigência da Lei da Ficha Limpa, o senador paraibano Cássio Cunha Lima (PSDB), que está concluindo o mandato por não ter sido reeleito, foi o terceiro expoente da família, com raízes em Campina Grande, a ocupar a cadeira de senador pela Paraíba. Entre 1977 e 1982, Ivandro Cunha Lima, seu tio, assumiu o mandato com o falecimento do líder político Ruy Carneiro. Em 1994, seu pai Ronaldo Cunha Lima, poeta e ex-governador, elegeu-se àquela Casa em dobradinha com Humberto Lucena e teve atuação destacada, inclusive em aspectos jurídicos. Cássio completou a tríade familiar com uma particularidade: o tio Ivandro é o seu segundo suplente. O primeiro é o empresário José Gonzaga Rodrigues, Deca do Atacadão, que chegou a ocupar a titularidade por ocasião de licenças requeridas por Cássio.
Ivandro explicou ter figurado numa suplência de Cássio apenas pelo desejo de colaborar com sua campanha e com o Estado. Ele, realmente, não chegou a ascender à titularidade no único mandato que Cássio coleciona no Senado. Quando do imbróglio jurídico que impediu a posse de Cássio, detentor de mais de hum milhão de votos, a Mesa do Senado deu posse a Wilson Santiago, que havia concorrido pelo então PMDB e ficara em terceiro lugar na disputa, atrás de Cássio e de Vital do Rêgo Filho. Por um dos caprichos da política, Cássio estará abandonando o Senado ao mesmo tempo em que Wilson Santiago, do PTB, estará voltando à Câmara Federal, substituindo ao filho, Wilsinho, eleito estadual. Ivandro Cunha Lima comentou a jornalistas paraibanos em 2011 que a investidura do sobrinho fez justiça à longa batalha por ele travada na Justiça e expressou reconhecimento à vontade popular manifestada nas urnas. Avaliou que Cássio teria papel relevante, inclusive, no cenário nacional, o que se confirmou: Cássio é atual vice-presidente do Senado, ocupou a presidência algumas vezes, na ausência do titular Eunício Oliveira (MDB-CE), e chegou a ocupar a liderança do PSDB no Senado.
Wilson Santiago estava no gabinete do então ministro da Educação, Fernando Haddad, em outubro de 2011, quando foi informado por telefone de decisão do Supremo Tribunal Federal favorável à posse de Cássio, tendo ficado surpreso com o desfecho. Fernando Haddad, este ano, concorreu a presidente da República pelo Partido dos Trabalhadores, substituindo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba e teve a candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa. Haddad ficou em segundo lugar, confrontando-se com Jair Bolsonaro no segundo turno e alcançando cerca de 45 milhões de votos.
No que diz respeito a Cássio, ele e os familiares foram surpreendidos com a derrota e, mais ainda, com a quarta posição alcançada por Cássio em outubro último, abaixo de Veneziano Vital do Rêgo (PSB), Daniella Ribeiro (PP) e até Luiz Couto (PT). Daniella, que fez dobradinha com Cássio, tornou-se a primeira senadora da história política da Paraíba. A derrota de Cássio também surpreendeu analistas e círculos políticos embora houvesse sinal de desgaste da sua imagem, por ter se exposto no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Cássio começou a campanha liderando pesquisas e chegou ao final com um péssimo resultado. Ele anunciou que está disposto a continuar colaborando com a Paraíba, independente de mandato eletivo, disse que passará a atuar em escritório de advocacia na Capital Federal e descartou a hipótese de ser candidato a prefeito de Campina Grande em 2020.
Nonato Guedes