A qualidade da medicina em Cuba, em pleno domínio do Comandante Fidel Castro, impressionou o governador paraibano Ronaldo Cunha Lima, já falecido, por ocasião de uma visita oficial que fez à ilha em novembro de 1991, em companhia da primeira-dama do Estado, Glória Cunha Lima. O poeta Ronaldo ficou particularmente impressionado com o programa médico de família, em que profissionais formados atendiam cubanos doentes em suas próprias casas, evitando deslocamento para hospitais da rede pública e para outras unidades de atendimento e apoio e cogitou adotá-lo na Paraíba. O programa não chegou a ser levado adiante o episódio está sendo lembrado agora a propósito da decisão do atual governo cubano de chamar de volta ao país profissionais participantes do programa Mais Médicos, que foi incentivado pelos governos do PT no Brasil e que o presidente eleito Jair Bolsonaro promete rever para ajustá-lo a outras diretrizes.
Ronaldo, que era filiado ao PMDB quando governou o Estado, no começo da década de 90, cumpriu uma agenda eclética em Cuba a convite de autoridades daquele país. Participou de encontros com representantes do governo, conheceu programas sociais e firmou um protocolo de intercâmbio em projetos tecnológicos. Ficou faltando encontrar o Comandante Fidel Castro, na época obrigado a trocar de lugares temendo ataques inimigos. Pelo menos por duas vezes o cerimonial brasileiro chegou a agendar um encontro do poeta paraibano com Fidel Castro, mas isso não ocorreu. Ronaldo recebeu telefonemas com pedidos de desculpas e um emissário de Cuba, o ministro das Relações Exteriores, ofereceu-lhe lembranças do regime fidelista. Embora não fosse socialista, Ronaldo tinha simpatia por esses ideais. Como turista, ele passeou em shopping center e visitou cartões-postais de Havana e arredores. Como boêmio, não abriu mão de tomar um Mojito no La Bodeguita, templo sagrado que era frequentado por intelectuais como Ernst Hemingway, e trocou desafios, em versos, com trovadores locais, arrancando aplausos dos presentes.
Mencionado num dos eventos oficiais como provável candidato a vice-presidente da República do Brasil (ele estava cogitado para compor uma chapa encabeçada por Orestes Quércia, governador de São Paulo), Cunha Lima foi entrevistado numa emissora de rádio de Havana pelo locutor paraibano José Lira. Um outro paraibano, o embaixador do Brasil em Cuba, Asdrúbal Ulyssea, foi recepcioná-lo no aeroporto e ciceroneou-o no roteiro de visitas. Duas Mercedes ficaram à sua disposição. Mão aberta, Ronaldo deu gorjetas e pagou bebidas, desafiando a Lei Seca vigente na ilha dos Castro. De volta à Paraíba, Ronaldo relatou impressões pessoais acerca do que viu em Cuba. Não escondeu surpresa com as dificuldades enfrentadas por Cuba, mas, ao mesmo tempo, ficou sensibilizado com a fé e a coragem dos habitantes.
– É um fenômeno! exclamou Ronaldo, em depoimento que concedeu à extinta revista A Carta, editada na Paraíba pelo jornalista Josélio Gondim. Elogiou a falta de analfabetismo em Cuba e falou da divisão da economia em duas moedas: o dólar e o peso. A proposta de importar know-how cubano em medicina para o nosso Estado empolgou profissionais locais, como o pediatra Paulo Soares, fã de um projeto denominado Chegou o Doutor!, que não saiu do papel. Afirmação de Ronaldo Cunha Lima: Senti que o povo cubano está em estado de resistência. Não é um povo socialista, é um povo patriota, pronto para brigar até a última gota pela independência de Cuba. A influência brasileira era marcante na transmissão de novelas como Roque Santeiro, como notou Ronaldo. Além dele, outro governador paraibano Ricardo Coutinho, do PSB, que está concluindo o segundo mandato, esteve na ilha em 2011 e também reportou avanços surpreendentes ali introduzidos.
Nonato Guedes