Desde que as urnas foram fechadas e constatou-se que o PSDB teve o pior desempenho da sua história no país não se fala em outra coisa no partido senão na reinvenção do partido, desta feita não com refundação que implicaria em mudança de rótulo, mas na fusão com outras legendas, como tática de sobrevivência, já que o futuro do ninho tucano está ameaçado e a desunião é latente entre cabeças coroadas ou condestáveis do PSDB. A proposta que será levada à discussão pelo secretário-geral do PSDB nacional, Marcos Pestana, prevê a fusão com o PPS, o PSD, o DEM e o PV. Mas, como soe acontecer, haverá certa confusão nessa empreitada em alguns Estados como, por exemplo, a Paraíba.
Aqui, o PPS é dirigido pelo jornalista Nonato Bandeira, ex-vice-prefeito de João Pessoa, que se reintegrou à liderança política do governador Ricardo Coutinho e não professa nenhuma simpatia pelo PSDB. Um outro partido fora de cogitação, à primeira vista, é o DEM, presidido pelo ex-senador Efraim Morais. Em 2010, o DEM se aliou a Cássio Cunha Lima (PSDB) para elegerem Ricardo Coutinho ao governo do Estado contra José Maranhão, do então PMDB. Quando houve o rompimento de Cássio com o PSB ricardista, o DEM manteve-se na órbita oficial, fiel a uma certa vocação para o poder de plantão entranhada nas suas vísceras desde que era PFL. No pleito deste ano, mesmo sem participar da chapa majoritária vencedora, o Democratas fechou com a candidatura de João Azevedo, candidato in pectoris de Ricardo. Logo, a perspectiva de fundir-se ao PSDB paraibano é zero, salvo se houver alguma intervenção da cúpula nacional, o que ocasionaria trauma regional.
O PSDB cogita, no projeto de fusão, associar-se ainda ao PSD e ao PV. Em relação à realidade paraibana, são partidos afinados com o senador Cássio Cunha Lima e outros expoentes tucanos. O PSD, com a morte do deputado federal Rômulo Gouveia, está sob o controle do deputado estadual Manoel Ludgério, que tem canais com os Cunha Lima em Campina Grande e já se lançou, mesmo, candidato a prefeito para 2020 com o aprovo do senador Cássio, conforme ele revelou. Já o PV está sob a regência dos irmãos gêmeos Lucélio e Luciano Cartaxo. Lucélio foi candidato a governador, ficando em segundo lugar no páreo. Teve como vice a doutora Micheline Rodrigues, mulher do prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, do PSDB. O PV não conseguiu avançar em termos de estruturação pelo interior doestado e tem um futuro indefinido, já que o clã Cartaxo ainda lambe as feridas da derrota na eleição majoritária e dedica-se até mesmo a buscar sócios para dividirem a culpa pelo revés. O prefeito da Capital, Luciano, deu uma pista do seu humor em termos de avaliação da derrota, batendo na tecla da desunião das oposições como fator preponderante para o referido desideratum.
É da praxe política-partidária no Brasil que a cada fim de eleição as cúpulas partidárias reavaliem seu tamanho, analisem causas de definhamento do potencial e, enfim, procurem desesperadamente saídas de emergência para sobreviver. Este último processo, geralmente, é feito de afogadilho, pela urgência de garantir espaços que ameaçam escapar ao controle das cúpulas. Ocorre, também, que o calendário eleitoral no Brasil não costuma dar trégua daqui a dois anos, por exemplo, haverá eleições para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores nos municípios, incluindo Capitais influentes no mapa político-eleitoral do país. Não é certo que a fusão pretendida pelo PSDB venha a ser um sucesso. Mas o partido, pelo menos, faz a sua parte, tentando preservar-se em meio à hegemonia de outras forças que tiveram a preferência do eleitorado.
Nonato Guedes