Uma das boas notícias da próxima legislatura federal, no que diz respeito à representação da Paraíba na Câmara, é o retorno ao plenário e à tribuna do deputado Ruy Carneiro (PSDB). Ele estava de quarentena na militância política propriamente dita desde que participou da campanha de 2014 como candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Cássio Cunha Lima, que foi derrotada por Ricardo Coutinho-Lígia Feliciano. Ruy não caiu no imobilismo e foi alçado à presidência do diretório regional do partido com a missão de tentar reestruturá-lo e contribuir para que volte aos quadros de poder, aqui e alhures.
Infelizmente, Ruy está de volta ao cenário num momento de desgaste do PSDB, que este ano teve o pior desempenho em eleição presidencial, com a pífia performance do candidato Geraldo Alckmin. O partido tucano deixou de polarizar com o PT a hegemonia eleitoral e de poder no país, tragado pela alternância que abriu espaço para um outsider da política, o deputado federal Jair Bolsonaro, que logrou tornar-se fenômeno no vácuo do descarrilamento ético e moral de agremiações que até então dominavam a cena. Mas talvez por isso mesmo, ou seja, por esse momento traumático que o país vive, o concurso de Ruy nas discussões políticas, no plano nacional, seja imprescindível para uma legenda que perdeu o discurso e a condição de polo alternativo.
Em termos de atuação parlamentar específica, Ruy sempre foi pródigo e brilhante, quer na Câmara Municipal de João Pessoa, onde começou, na Assembleia Legislativa, onde se projetou e na Câmara Federal, onde, entre outras proposições, abraçou uma de sentido eminentemente nobre a paz no trânsito. Ele foi incansável batalhador por medidas protetivas da vida no trânsito, diante da escalada de violência e da quantidade de acidentes com vítimas fatais. Dos debates de que participou ativamente e das propostas que engendrou, após sabatinar segmentos da sociedade, Ruy Carneiro extraiu subsídios que fundamentaram os princípios da Lei Seca, ainda hoje em vigor, ainda hoje alvo de controvérsias, mas ainda hoje responsável pela redução drástica no número de mortos nas estradas brasileiras.
Evidente que as leis não são estáticas e que os poderes precisam estar atentos para ajustá-las, constantemente, à realidade contemporânea. É possível que haja excessos embutidos na Lei Seca, como também deve haver omissões que precisam ser corrigidas o quanto antes e que não foram levadas em conta ou apreciação pelo legislador em virtude da gama de assuntos de urgência-urgentíssima a prender suas atenções e interesse. A primeira Lei Seca terá sido, assim, um experimento, não de laboratório, uma vez que testado cruamente no palco dos acidentes que se destinava a coibir ou refrear. Seria hora, então, de aperfeiçoá-la. Ruy estará atento a isso, claro.
A referência à Lei Seca é apenas ilustrativa de uma das bandeiras empalmadas pelo deputado federal paraibano e que tiveram repercussão no âmbito da sociedade brasileira como um todo. Funcionou como exemplo palpável de que a vontade política é passível, sim, de operar iniciativas concretas que protejam a sociedade ou que, em outra vertente, venham a beneficiá-la. Ter consciência disso já é um passo fundamental na biografia de cada homem público. Ruy Carneiro sabe que vai estar a braços com outros desafios mais ingentes e é claro que a eles se dedicará com o afinco de sempre. Não vai se descurar, entretanto, das boas soluções que precisam apenas de aprimoramento para se tornarem imperecíveis.
Nonato Guedes