Começam a vazar documentos até então catalogados como confidenciais que desvendam os bastidores da transação do governo brasileiro, na gestão de Dilma Rousseff (PT) com o governo de Cuba, liderado por Fidel Castro, para a importação de médicos da ilha para atuarem em nosso território. A mídia sulista revela que foi montada uma operação triangular sigilosa, envolvendo uma organização pan-americana, que driblou o Congresso Nacional. A manobra intentou abafar reações contra o recrutamento de profissionais cubanos através do programa Mais Médicos. A parte do Leão do programa não era repassada aos médicos cubanos, que eram tratados como escravos, mas diretamente ao governo de Fidel, que precisava fazer caixa para enfrentar o prolongado embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. O sigilo foi tido como indispensável, também, para anular protestos dos médicos brasileiros. Estes, durante muito tempo e ainda agora, são apontados como vilões e mercenários, que supostamente se recusavam a deixar a zona de conforto nas Capitais para embrenhar-se por regiões inóspitas dos grotões do nosso país.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se declarou apaixonado pela revolução cubana, embora nunca tenha assumido o rótulo de socialista, foi o grande avalista da vinda dos médicos cubanos, interessado em fazer média com Fidel e com frações da opinião pública brasileira, sobretudo intelectuais, hipnotizados pela idolatria ao cara, como Lula teria sido chamado por Barack Obama, presidente americano. Publicações isentas atestam que durante o governo petista, os laços com Cuba foram reforçados. Em 2003, Fidel Castro veio até o Brasil para prestigiar a posse de Lula. Enquanto foi presidente, o idealizador do Partido dos Trabalhadores retribuiu fazendo quatro viagens oficiais à ilha para assinar acordos comerciais. Quando ambos Fidel e Lula não estavam mais no comando de suas nações, pelo menos oficialmente, nem por isso a afinidade desapareceu.
O grande exemplo mencionado sobre a exitosa parceria Brasil-Cuba foi o programa Mais Médicos. Lançado pelo governo de Dilma Rousseff, uma deslumbrada que construía raciocínios tortuosos em discursos para tentar justificar iniciativas do governo, farrapando apenas na questão das pedaladas fiscais, o que deu largada ao seu processo de impeachment, o programa, em tese, destinava-se a contratar médicos estrangeiros para atuar em áreas do país onde havia escassez de profissionais. Nos primeiros meses do programa, 15 mil médicos migraram para o Brasil, dos quais 11.500 eram cubanos (cerca de 80%), sendo que a maioria residia com suas famílias. Historiadores afirmam que embora parecesse estar distante dos holofotes, a influência de Fidel Castro estava longe de ser extinta dentro dos meandros da América Latina. Sob a batuta dos governos lulopetistas, predominava uma espécie de cumplicidade mais do que propriamente de parceria ou intercâmbio.
O governo de Dilma Rousseff pode ter protagonizado um caso de lesa-pátria ao impor sigilo e não transparência a um programa que teria repercussão indiscutível na economia brasileira e no mercado de trabalho. As revelações que estão vindo à tona sinalizam subsídios para a instauração, senão nesta legislatura que está se findando, mas certamente na próxima, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para descobrir a caixa-preta do Mais Médicos e, sobretudo, os termos do contrato assinado com o governo de Cuba. Em círculos médicos brasileiros sempre vicejou a suspeita de que havia dente de coelho por trás do experimento denominado de Mais Médicos. Na verdade, pode ter havido uma grande maracutaia, de cujo pacote teria feito parte, também, o presente do governo brasileiro ao governo cubano o porto de Mariel, enquanto complexos portuários do Brasil foram submetidos a esvaziamento e falta de condições operacionais. Que tudo seja esclarecido é o mínimo que se exige, em respeito à opinião pública.
Nonato Guedes