O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), foi o segundo gestor do Estado a fazer uma viagem a Cuba, ainda com Fidel Castro vivo, e teoricamente a visita abriu perspectivas de cooperação e intercâmbio com a ilha. Em declarações a jornalistas no seu retorno, Ricardo Coutinho chegou a apostar numa rodada de negócios que poderia chegar a US$ 5,5 milhões, rateados entre onze empresas instaladas no Estado. Havia uma expectativa de avanços importantes com resultados concretos nas áreas da Educação e da Saúde. Coutinho foi o segundo governador paraibano a visitar oficialmente o território cubano antes dele, na década de 90, Ronaldo Cunha Lima (PSDB), já falecido, cumprira agenda de contatos na ilha, sem ter, porém, conseguido avistar-se com Fidel Castro.
A viagem de Ricardo a Cuba deu-se em setembro de 2011, no primeiro ano da administração socialista do Estado que fora vitoriosa nas eleições de 2010. Conforme os relatos que vazaram, houve acenos do ponto de vista econômico para investimentos na Paraíba, os quais não chegaram, concretamente, a materializar-se. Há quem diga que o saldo da visita de Ricardo a Cuba só deu frutos de forma indireta, com a adoção pelo governo federal do programa Mais Médicos, quando alguns profissionais daquele país instalaram-se em municípios do interior, inclusive, no Sertão, conhecido pelo clima semiárido. Os médicos cubanos que vieram para a Paraíba estão retornando agora para o país de origem, no exato momento em que Ricardo prepara sua despedida de uma permanência de oito anos no Executivo local.
A dificuldade para a concretização de parcerias produtivas devia-se a um fator preponderante: a fase de reconstrução que Cuba atravessava, depois que o território de Fidel fechou-se em copas e perdeu parceiros que movimentavam a economia cubana. Raúl Castro, o irmão de Fidel, passara ao comando do poder e, à frente dele, deflagrou um processo atabalhoado de reformas graduais, tendo dispensado meio milhão de servidores públicos e flexibilizado a propriedade privada, ao mesmo tempo em que estimulava a entrada de capitais estrangeiros ou de investimentos externos mediante regras e limitações. Historiadores e analistas que acompanhavam o desdobramento da revolução socialista instaurada após a vitória de Fidel reconheciam a complexidade da transição, principalmente para os cubanos. As carências latentes obrigavam o país a importar quase tudo, de gêneros a equipamentos tecnológicos, mas havia freios nesse ritmo em virtude da escassez de reservas.
A incógnita era maior, por ocasião da presença do governador Ricardo Coutinho em Cuba, devido à onipresença de Fidel, impondo cautela a Raul Castro na velocidade das reformas que seriam inevitáveis para o ritmo de passagem do regime cubano. Essa situação não passou desapercebida a Ricardo, que na Paraíba enfrentava problemas de outra natureza, na área da Saúde, por causa da terceirização do hospital de Emergência e Trauma de João Pessoa à Cruz Vermelha Brasileira. A adesão do Estado ao projeto de terceirização detonou protestos de representantes da classe médica paraibana, que ganharam reforço na luta para demonstrar a inconstitucionalidade do processo, ainda que sem força para evitar a sua continuidade até hoje. Na época da visita de Ricardo atribuía-se a Fidel a declaração de que o modelo cubano já não funciona nem para nós mesmos. O que favorecia Ricardo Coutinho era a constatação de que seu governo estava começando e haveria tempo para colher resultados, o que acabou não ocorrendo na proporção desejada.
Nonato Guedes