O professor Ricardo Vélez Rodrigues, nomeado para o ministério da Educação no governo Jair Bolsonaro, já tem produzido declarações polêmicas como a de que não hesitará em levar à apreciação do presidente, em primeira mão, o teor das provas aplicadas no Enem, como se o capitão reformado fosse alguma espécie de bedel da rede pública e não tivesse preocupações mais graves a deslindar. Vélez, que tem origens colombianas, era coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais, quando expôs em 2011, no jornal O Estado de São Paulo, sua crítica veemente ao governo do presidente Lula da Silva (PT), atribuindo-lhe uma herança maldita como legado ao povo brasileiro. Apenas para efeito de registro: Juiz de Fora é a cidade onde Bolsonaro foi esfaqueado na campanha eleitoral deste ano por um militante do PSOL.
Em 2011, Vélez acusava Lula de agir de forma cínica ao desfiar esperanças no futuro da Nação, depois de ter deixado um legado populista e contribuído para a falência das instituições. Sob sua influência, acelerou-se a subserviência da Justiça ao Executivo, verberava o professor, acrescentando: Lula desconstruiu, de forma sistemática, a tradição de seriedade da diplomacia brasileira, aliando-se a tudo quanto é ditador e patife pelo mundo afora, com a finalidade de mostrar novidades nessa empreitada, brandindo a consignação de um Brasil grande que está nos causando mais prejuízos do que benefícios”. Foi Lula, de acordo com Vélez, que derrubou a Lei de Responsabilidade Fiscal e, logo, qualquer fiscalização. A LRF havia sido instituída no governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.
O professor socorria-se de outros fatos negativos produzidos na Era Lula e equivocadamente endeusados, aqui e lá fora, para argumentar que um título de doutor honoris causa que fora concedido a Lula pela prestigiosa Science Pos, de Paris, equivalia a uma boa piada ou decorria de ignorância sobre o que se passava em nosso Brasil. Os doutores franceses ponderava Vélez deveriam olhar para a nossa inflação crescente, para a corrupção desenfreada, para o desmonte das instituições republicanas promovido pelo líder carismático. Segundo ele, nuvens ameaçadoras já se desenhavam no horizonte do agravamento da crise financeira mundial, que certamente encontraria os brasileiros com menos recursos do que antes.
– Ao que tudo indica escreveu o futuro ministro os docentes da Science Pos ficaram encantados com essa flor de lapenséesauvage, o filho de dona Lindu que conseguiu fazer tamanho estrago sem perder a pose. O líder prestigiado pelo centro de estudos da França falou, no final do discurso, uma verdade pouco levada em conta. Lula afirmou entender que a homenagem fora prestada ao povo brasileiro. O povo brasileiro paga, agora, com acréscimos, a conta da festança demagógica de Lula e enfrenta, com minguada esperança, a luta de cada dia. Tratava-se, tal ponto de vista, na época em que foi exposto pelo professor Ricardo Vélez, de um rojão demolidor, conhecendo-se, como se conhece, a mitologia que foi erigida no Brasil e no mundo afora em redor de Lula da Silva, por ter sido o primeiro operário alçado à presidência da República num país da América do Sul. Mas, sem tirar nem pôr, era a expressão da realidade. Quanto às declarações polêmicas atuais do futuro ministro, pedem tempo para uma avaliação sobre seu significado e exatidão.
Nonato Guedes