A homenagem ao senador Humberto Lucena, ontem, em Brasília, de iniciativa do senador Cássio Cunha Lima, foi ao homem público que pontificou por quase meio século no cenário estadual e nacional, duas vezes presidente da instituição que agora reservou uma Ala para imortalizá-lo nos corredores movimentados do Congresso. Mas a evocação da figura do senador Humberto como a grande referência que se mantém no quadro político remete a uma questão particularíssima a sua passagem pelo comando do antigo PMDB, fazendo, como eu disse em artigo, certa vez, o papel de algodão entre cristais, minimizando divergências que ele sabia serem profundas e que acabaram, já ele morto, golpeando a megaestrutura de um partido que crescia como pão-de-ló.
Hoje sob o comando do senador José Maranhão, o PMDB que voltou a se chamar MDB (denominação que recebeu quando do nascedouro no regime militar), a agremiação que projetou Tarcísio Burity, Antônio Mariz, Ronaldo Cunha Lima e inúmeros outros líderes é um arremedo de partido. Experimentou nas eleições de 2018 certamente o mais pífio desempenho de toda a sua trajetória, ficando reduzido a um deputado estadual para a próxima legislatura (Raniery Paulino), a nenhum federal e a um único senador, o próprio Maranhão, a quem caberia apagar as luzes do novo MDB. No plano nacional, a legenda desocupa a presidência da República, que foi excepcionalmente ocupada por Michel Temer no bojo do processo rumoroso de impeachment da petista Dilma Rousseff.
MDB, PMDB e novamente MDB talvez tenham cansado a opinião pública. O partido não fez boa figura nas eleições a governos estaduais e talvez seja obrigado a mendigar migalhas de poder no imprevisível governo de Jair Bolsonaro, que tem mais compromisso com a caserna do que com a sopa de letrinhas que constitui o desgastado sistema partidário brasileiro. O falecido deputado Soares Madruga, que foi um dos melhores articulistas políticos da Paraíba, não teria dificuldade em atribuir a crise vivenciada hoje pelo MDB paraibano a uma causa conhecida como fadiga de material. É a síndrome do desgaste e da exaustão, que no pleito encerrado abriu espaço para outsiders como Bolsonaro e dinamitou outros partidos como o PSDB, este passando por crise sem precedentes, a começar da pior de todas, a de identidade.
Cássio Cunha Lima, no discurso-homenagem a Humberto Lucena, resumiu duas características marcantes da personalidade do homenageado: espírito conciliador e habilidade política. Humberto conhecia, como poucos, a psicologia humana, especialmente a dos políticos, geralmente metidos em fogueiras de vaidades, em personalismos quando não, atracados em maracutaias que tornaram a prisão, em vez do Congresso, o habitat natural de muitos deles. (Ainda hoje foi preso ogovernador do Rio de Janeiro, o Pezão, coroando a safra de governantes arrolados em episódios criminais ou policiais, lista que passa por Anthony e Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, hoje frequentadores de celas que construíram quando em cargos de mando. Política tem prazo de validade o problema é convencer dessa realidade os políticos, até o momento em que eles são afetados. No que diz respeito ao MDB da Paraíba, é inevitável constatar que a figura de Humberto Lucena é insubstituível.
Nonato Guedes