Qualquer coisa é motivo para comemoração quando não se tem feitos marcantes para exibir como troféus. O presidente Michel Miguel Elias Temer está logrando a proeza de chegar ao fim do mandato-tampão que enfeixou sem que o cafezinho tenha esfriado no Palácio do Planalto. E foi tomado de surpresa, ontem, ao ser aplaudido durante uma cerimônia externa a que compareceu. Nas condições atuais de temperatura e pressão, Temer era candidato à rua da amargura, quando não da execração, espécie de Geni da política brasileira.
Entendam: não é que Temer, necessariamente, tenha feito muito mal ao povo brasileiro desde que se investiu na cadeira do poder com o impeachment de Dilma Rousseff, que o acusou de tramar a sua derrubada do cargo (há, nisso, um certo exagero, porque a verdade é que Dilma caiu por causa das pedaladas fiscais detectadas pelo TCU e devido à inabilidade política que a fez tensionar as relações com o Congresso, não obstante os apelos patéticos do ex-presidente Lula para que ela tivesse mais jogo de cintura). Mas, descontado o exagero da retórica tortuosa de Dilma, Temer deu sua quota de contribuição para acelerar a saída da Sra. Rousseff. Não é por acaso que vigora no Brasil o mantra de que é nos gabinetes dos vices onde nascem as conspirações.
O problema do marido de Marcela é que ele se empenhou bastante para assumir a presidência da República- e, no final das contas, não deixa grandes marcos dignos de serem lembrados lá na frente, quando tudo for apenas História. Temer intentou chefiar um governo de salvação nacional na prática, montou uma arca de Noé e ficou devendo a aprovação das reformas imprescindíveis que a sociedade vinha reivindicando em manifestações de rua que remontam a 2013. A reforma da Previdência Social, considerada como a grande causa do déficit público, não saiu do papel. Tudo bem que o ano eleitoral conspirou contra deputados, senadores e presidenciáveis não queriam se indispor com o eleitorado justo na hora em que pediam votos. Foram feitos ajustes cosméticos em vez de reformas pra valer. Os adversários mais empedernidos qualificam a Era Temer como a Era do retrocesso, do ponto de vista da anulação de conquistas que haviam sido obtidas a duras penas pela sociedade em mobilizações de rua.
Temer foi tão insignificante e nada carismático que não teve condições, sequer, de ser candidato ao que seria uma reeleição a rejeição ao seu governo bateu em níveis estratosféricos e o presidente, ainda que não tenha sofrido grandes hostilidades, inclusive porque ficou muito recluso em Brasília, também não criou empatia. Foi mais ou menos por isso que ele se surpreendeu quando não foi apupado nas últimas horas e quando tomou café forte no Palácio. Não parecia a moldura de fim de governo, embora não se possa dizer que já houvesse clima antecipado de nostalgia.
A verdade é que Michel Temer foi encarado até agora como um imperativo necessário para que a Constituição fosse cumprida, a democracia mantida e a administração não descambasse ladeira abaixo. Ele não foi irresponsável na gestão das contas públicas, mas também não foi pródigo na distribuição de grandes benefícios para parcelas da sociedade, sobretudo as mais carentes. No dizer dos comentaristas esportivos, Temer cumpriu tabela. Se não fez propriamente o Bem, não fez, de caso pensado, um grande Mal ao país. Vem daí que o mínimo de retribuição a ele parece ser mesmo oferecer um café quente. No fim do ano, sairá do Palácio sem deixar saudades eis a verdade.
Nonato Guedes