A propósito da influência de governantes antecessores na escolha de secretários ou auxiliares que passam a compor o governo do sucessor, vale recordar uma historinha que se deu no entreato da saída de José Maranhão do poder estadual para disputar uma vaga no Senado e da investidura do vice Roberto Paulino como titular. Os dois eram afinadíssimos, como ainda hoje o são, de que é exemplo a recente chapa casada protagonizada no pleito de 2018 em que JM concorreu novamente ao governo e Paulino foi o único candidato do MDB ao Senado. Os dois dividiram a derrota. Como vice, Roberto compôs a chapa às eleições de 1998, quando a reeleição foi aprovada pelo Congresso e Maranhão, que estava no exercício, julgou ter direito a postular um novo mandato. Enfrentou a cristianização dos Cunha Lima e pegou um adversário fácil, em quem aplicou um passeio eleitoral: Gilvan Freire. Proporcionalmente, Maranhão foi o mais votado nas disputas a governos estaduais naquele período.
Em 2002, Maranhão entendeu que Paulino era o candidato ideal para dar continuidade ao projeto que ele vinha implantando e que tinha como pilares a austeridade e o desenvolvimento (mais tarde, converteu-se o slogan para austeridade é desenvolvimento, num apelo subliminar para mostrar que o que fora prometido já estava sendo feito). Abala-se, então, Paulino, a concorrer ao Palácio da Redenção tendo como adversário o jovem líder Cássio Cunha Lima, que exibia cancha política e administrativa, não obstante ser um benjamin. A bem da verdade, diga-se que foi parada dura o confronto entre Paulino e Cássio, inclusive porque o primeiro pôde continuar à frente da máquina administrativa, embora, legalmente, não pudesse usá-la ostensivamente para desequilibrar o pleito em seu favor. O fato é que a disputa foi estendida para a prorrogação, ou seja, o segundo turno. E no segundo turno, Cássio ganhou.
Tão logo se investiu como governador com a renúncia de Maranhão, Paulino optou por manter a quase totalidade dos secretários e auxiliares nomeados por JM, seja porque confiava neles, seja porque encarava tudo dentro do ambiente de continuidade ou de camaradagem, tal como se ensaia por ora entre Ricardo Coutinho e João Azevedo. Em um cargo ou outro, Paulino emplacou os seus nomes in pectoris, mas no geral, a equipe tinha a cara e as digitais de Maranhão. Desafeito a vaidades, Paulino não deu trela a insinuações para incompatibilizá-lo com o antecessor. Só veio a demonstrar um certo incômodo quando percebeu que, em regra, o Palácio estava quase sempre vazio, sem aquele borbulhar de secretários, auxiliares e puxa-sacos pelos corredores. A agenda oficial praticamente era vazia não havia despachos ou audiências programadas. Foi quando repórteres setoristas descobriram que os secretários estavam atuando, sim só que mantendo despachos com José Maranhão, na sua residência, no Altiplano Cabo Branco.
Resumindo a ópera: Roberto Paulino estava governador mas não era governador. O governador continuava sendo Maranhão, que era assediado por ex-auxiliares em busca de sinalizações sobre o que deveria ser feito a partir da conjuntura que se havia instaurado sob a regência de Paulino. Esse governo paralelo de Maranhão não se está garantindo, aqui, que foi estratégia de caso pensado dele só não degenerou em dissabores e desentendimentos com Paulino por causa do espírito cordato deste e, também, pela circunstância de que Roberto tinha preocupações mais urgentes à vista, relacionadas com uma candidatura a governador contra um adversário respeitável. Assim são, com variações, situações de rotina no Palácio da Redenção. Tais situações não chegam a prejudicar o Estado mas podem diminuir a relevância do governador de plantão na galeria dos que passam pelo vetusto Palácio.
Nonato Guedes