Está prevista para as 8h de hoje, na capela do assentamento Zumbi dos Palmares em Mari, Paraíba, a celebração da missa de corpo presente do trabalhador sem terra José Bernardo da Silva, assassinado no último sábado, juntamente com seu companheiro Rodrigo Celestino, no acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra. Os dois foram mortos por pistoleiros encapuzados que logo em seguida fugiram sem deixar rastros. A chacina teve repercussão internacional e trouxe à Paraíba a senadora paranaense Gleisi Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, que avaliou o episódio como sintomático do clima de radicalização que, conforme ela, estaria sendo fomentado por partidários do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), que será diplomado hoje no cargo.
O governador Ricardo Coutinho (PSB) esteve presente ao velório realizado desde ontem e também se manifestou indignado com a violência praticada contra os trabalhadores, assegurando que o efetivo policial do Estado move caçada implacável aos executores e mandantes. Frei Anastácio Ribeiro, deputado estadual recém-eleito deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores, presidirá os funerais de José Bernardo. Em declarações formuladas, ontem, quando esteve na região, o parlamentar lamentou que a violência ainda esteja enraizada contra os trabalhadores rurais. De acordo com os seus cálculos, pelo menos 27 trabalhadores rurais foram assassinados de 1962 até hoje, sem que providências efetivas tenham sido tomadas para punição. Enquanto isso, nenhum proprietário foi morto, comparou o parlamentar.
Tão logo tomou conhecimento da chacina em Alhandra, o governador Ricardo Coutinho externou sua solidariedade às famílias das vítimas e aos trabalhadores rurais, salientando que são repulsivos os casos de intolerância que têm se repetido no país nos últimos anos, em meio a uma conjuntura política que levou à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Coutinho frisou que as lideranças comprometidas com avanços institucionais e com reformas sociais inadiáveis devem se manter atentas ao que vem por aí no governo de Jair Bolsonaro, diante das ameaças de retirada de conquistas alcançadas após muitos anos de mobilização. Inúmeras autoridades e representantes de entidades da sociedade civil repudiaram a violência que culminou com a morte dos dois trabalhadores em Alhandra.
Nonato Guedes